Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)

LIGAS ACADÊMICAS DE HEMATOLOGIA: A DIFICULDADE EM ENCONTRAR ORIENTADORES

  • GC Vieira,
  • GAS Xavier,
  • PMM Costa,
  • PJB Camargo,
  • ATO Raab,
  • TA Nunes,
  • DFB Rêgo,
  • GP Gutierres,
  • WO Santos,
  • LHA Ramos

Journal volume & issue
Vol. 43
p. S486

Abstract

Read online

Introdução: Ligas acadêmicas são entidades estudantis orientadas por médicos especialistas que realizam atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma a acrescentar na formação acadêmica. Uma dificuldade na execução destas atividades é a escassez de orientadores hematologistas, um desafio para as ligas relacionadas a esta especialidade. Pelo estudo demográfico de 2018, havia 2.668 médicos hematologistas no país - 0,7% do total de médicos registrados, com uma distribuição desigual nas regiões do país. Questiona-se, assim, qual o impacto da escassez e distribuição destes especialistas nas atividades das ligas acadêmicas. Metodologia: Foi realizado, em 2020, uma pesquisa quantitativa, via aplicação de questionários on-line a representantes de Ligas Acadêmicas de Hematologia atuantes no Brasil. O formulário foi enviado a 44 ligas, com uma adesão de respostas de 72,7%. O instrumento era autoaplicável e anônimo, a participação voluntária, com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O questionário original proposto era composto por 13 questões e, para esta análise, as informações de 2 delas foram catalogadas em tabelas do Microsoft Excel®: “A liga possui um orientador hematologista? ”e “A liga enfrenta dificuldades ao procurar professores hematologistas? ”. Para análise, as variáveis foram descritas em valores absolutos e proporções. Resultado: A grande maioria (93,75%) das ligas de hematologia possui um orientador especialista, em que 40,62% delas tem dificuldade em encontrá-los com disponibilidade para realizar tais orientações. Destas, 18,72% são do Nordeste, 12,49% do Sudeste, 3,12% do Norte, 3,12% do Centro Oeste e 3,12% do Sul. Ao analisar proporcionalmente por região, ligas da região Norte e Nordeste apresentam as maiores dificuldades, 66,6% e 50%, respectivamente, seguidas pela região Centro Oeste (33,3%), Sudeste (28,57%) e 25% no Sul. Discussão: O estudo de demografia médica no Brasil de 2018 realizado pela Universidade de São Paulo mostrou que dos médicos registrados como hematologistas, 60,6% encontram-se no Sudeste, 15,1% no Nordeste, 14% no Sul, 7,2% no Centro-Oeste e apenas 3% na região Norte. Considerando, assim, que mais da metade dos hematologistas encontram-se nos estados do sudeste, torna-se relevante o fato de que quase um terço das ligas daquela região tenham dificuldade de encontrar orientadores. Isso é corroborado no cenário oposto, em que no nordeste, onde estão 15,1% dos médicos hematologistas brasileiros, aproximadamente 67% das Ligas referiram dificuldade. É importante destacar que o número de hematologistas por habitantes, bem como a tendência de concentração médica em capitais, pode interferir na análise da pesquisa. Neste sentido, faz-se necessário levantar o debate do desafio enfrentado pelas ligas acadêmicas, uma vez que tem papel importante na formação dos médicos brasileiros. Conclusão: A concentração de hematologistas por região aparenta ter relação com a dificuldade em encontrar esses profissionais para orientar as ligas acadêmicas. Conforme exposto, nem mesmo uma maior concentração de especialistas em uma região consegue contrabalancear o desafio. Sendo assim, faz-se necessário compreender, em uma análise mais profunda, quais são estas dificuldades, trazer os gestores e associações para o debate e propor soluções para que acadêmicos interessados em hematologia tenham o suporte necessário para uma formação de qualidade.