Revista Brasileira de Geomorfologia (Jul 2019)

GEOMORFOLOGIA FLUVIAL DO BAIXO RIBEIRA DE IGUAPE, SÃO PAULO, BRASIL

  • Yuri Veneziani,
  • Cleide Rodrigues,
  • Juliana da Costa Mantovani

DOI
https://doi.org/10.20502/rbg.v20i3.1545
Journal volume & issue
Vol. 20, no. 3

Abstract

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As inundações são um dos mais graves riscos sociais da atualidade em todo Mundo. No Estado de São Paulo, uma das áreas mais vulneráveis é o médio e baixo terços do Vale do Ribeira, onde recorrentes inundações têm levado a graves crises sociais e econômicas. A abordagem geomorfológica, por meio da cartografia geomorfológica, permite indicar fatores do sistema físico que influenciam na suscetibilidade dos ambientes, pertinentes às escalas espaciais e temporais do fenômeno, avançando na identificação de processos hidrodinâmicos e realização de interpretações morfogenéticas. Este estudo objetivou a compreensão da geomorfologia fluvial da planície meândrica do baixo Ribeira de Iguape, interpretando tendências hidromorfodinâmicas relativas aos processos inundação e apontando aspectos da morfogênese regional. A investigação procedeu com elaboração de mapeamento geomorfológico em 1:50.000, envolvendo etapa de gabinete, com fotointerpretação analógica a partir de estereoscópicos e restituição digital em SIG; e campo, com campanhas para validação de limites espaciais e levantamento de materiais amostrais. Os resultados indicaram ampla variedade de formas e materiais correlativos de canal, planície e terraço no sistema meândrico do baixo Ribeira de Iguape e de paleoambientes fluviais, permitindo a divisão do trecho estudado em duas metades com características geomorfológicas distintas. Quanto à morfogênese, a distribuição das formas e seus arranjos demonstraram o controle estrutural da evolução do Graben de Sete Barras na definição de distintos índices de sinuosidade entre as metades de montante e jusante, acompanhadas da alteração do padrão de forma das seções transversais, concentração de barras arenosas e ilhas. Há interferências de tal controle na formação e resiliência das superfícies de terraços altos no trecho. Quanto à morfodinâmica, a variabilidade de formas mapeadas implica distintas tendências de processos hidrodinâmicos. A montante, além de terraços (que denunciam a incisão fluvial), prevalece níveis de planície e backswamps sugerindo a predominância de mecanismos de inundação na elaboração da planície; enquanto à jusante, a presença de meandros abandonado, cordões arqueados e amplas barras arenosas laterais permite afirmar que são dominantes os processos de migração lateral. O mapeamento geomorfológico viabilizou apontamento de tendências espaciais e temporais relativas às inundações nos distintos compartimentos, para os quais graus de suscetibilidades podem ser atribuídos. Por outro lado, a variabilidade de formas revelou que as relações hidráulicas são descontínuas espacial e temporalmente, impossibilitando o estabelecimento de valores únicos de cota-vazão para extremos fluviais. A compreensão da vulnerabilidade à inundação e sua contribuição à gestão de risco devem passar por aspectos relativos à conectividade dos fluxos na planície fluvial.

Keywords