Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

ALTA TAXA DE MORTALIDADE E FATORES ASSOCIADOS EM TRAVESTIS E MULHERES TRANS VIVENDO OU NÃO COM HIV NO RIO DE JANEIRO, BRASIL

  • Flavia C. Serrão Lessa,
  • Emilia Moreira Jalil,
  • Ricardo de Mattos Russo Rafael,
  • Luciane de Souza Velasque,
  • Eduardo M. Peixoto,
  • Luiz R.S. Camacho,
  • Ronaldo I. Moreira,
  • Monica Derrico,
  • Mario Sergio Pereira,
  • Laylla Monteiro,
  • Valdilea G. Veloso,
  • Beatriz Grinsztejn,
  • Sandra W. Cardoso

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 102970

Abstract

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Introdução: Travestis e mulheres trans (TMT) carregam uma carga desproporcional de resultados adversos à saúde, incluindo a infecção pelo HIV. No entanto, dados sobre mortalidade nesse grupo são escassos no Brasil. Esse estudo objetivou caracterizar as mortes ocorridas em uma coorte trans-específica e analisar fatores associados à mortalidade. Métodos: Trata-se de análise transversal a partir dos dados de entrada de uma coorte prospectiva e das informações do sistema de mortalidade (SIM) por meio de linkage probabilístico. A coorte Transcendendo foi estabelecida em 2015 e inclui TMT vivendo com HIV (TMTVHIV) ou HIV-negativas com 18+ anos, do Rio de Janeiro, Brasil. Foi realizada análise de regressão logística para identificar fatores associados ao óbito na coorte. Resultados: Entre 2015-2020, 537 TMT foram incluídas na coorte (56,4% TMTVHIV). A idade mediana foi 31 anos (intervalo interquartil [IIQ]:25-38), 69,6% se declararam Negras/Pardas, e 38,7% eram profissionais do sexo. Foram identificados 24 óbitos (4,5%), dos quais 20(83,3%) ocorreram entre TMTVHIV e 4[16,7%] entre TMT HIV-negativas. Entre as 20 TMTVHIV que foram a óbito, 14(70%) estavam em uso de terapia antirretroviral na entrada da coorte, e a contagem mediana do CD4+ nadir era 168 células/mm3 (IIQ:44-271). As causas de óbito nas TMT-VHIV foram infecções relacionadas ao HIV/AIDS (n = 11[55,0%]), seguidas de câncer (n = 4[20,0%] dos seguintes sítios: espaço retroperitoneal/peritônio [n = 1], pulmão/brônquio [n = 1], mama [n = 1] e ânus [n = 1]), causas externas (n = 2[10,0%]), causa desconhecida (n = 2[10,0%]) e enfisema pulmonar (n = 1[5,0%]). Entre as TMT HIV-negativas, as causas de morte foram: causa externa (n = 1[25,0%]), COVID-19 (n = 1[25,0%]), infarto agudo do miocárdio (n = 1[25,0%]) e sepse (n = 1[25,0%]). Além da idade (OR 1,07[IC95%:1,03-1,11, p = 0,001), tiveram maior chance de morte as TMT com moradia instável (OR 6,92[IC95%:2,45-18,79, p < 0,001), que reportaram trabalho sexual (OR 3,57[IC95%:1,40-10,03], p = 0,010) e que viviam com HIV (OR 3,46 [IC95%:1,23-12,43, p = 0,031). Conclusões: TMT-VHIV tiveram uma chance aumentada de mortalidade. Além da idade, fatores relacionados à alta vulnerabilidade das TMT se associaram à maior chance de óbito. Nossos achados reforçam a necessidade de prevenção e cuidado com o HIV para considerar uma abordagem mais ampla de saúde, que aborde as desigualdades de saúde e suas causas entre as TMT no Brasil.

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