Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)
CARACTERIZAÇÃO TEMPORAL, REGIONAL E DEMOGRÁFICA DOS INTERNAMENTOS POR SEQUELA DE HANSENÍASE NO BRASIL
Abstract
Introdução/Objetivos: A hanseníase é uma doença infecciosa de evolução crônica que afeta a pele, os nervos periféricos, a mucosa do trato respiratório superior e os olhos. Apesar de acometer pessoas de ambos os sexos e faixas etárias, a infecção por hanseníase é historicamente associada a situações de baixa condição socioeconômica e aglomerações, atingindo essencialmente pessoas em situação de vulnerabilidade. Dados oficiais de 127 países em 2020 registraram 127.396 novos casos, neste cenário, Índia, Brasil e Indonésia concentram 74% do total. Desses, 17.979 casos foram registrados no Brasil e 1.504 indivíduos apresentavam deformidades visíveis (G2D), estabelecendo o país na segunda colocação na relação mundial em números de novos casos. Diante disso, o presente estudo buscou caracterizar a distribuição temporal, regional e demográfica dos internamentos por sequela de hanseníase no Brasil. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, realizado em todas as regiões do Brasil, entre janeiro de 2008 e dezembro de 2020, das internações por sequelas de hanseníase, utilizando como base de dados o Sistema de Internações Hospitalares (SIH-SUS). As variáveis utilizadas foram: região de residência; sexo, idade, raça/cor e ano de internamento Os dados foram tabulados no Excel 2019, onde foram calculadas as variações percentuais no período (VPP). Resultados: No período, foram contabilizadas 13213 internações por sequelas de hanseníase. As seguintes VPP foram encontradas, entre 2008 e 2020: Brasil: -72%; Centro-Oeste: -94%; Sudeste: -77%; Nordeste: -63%; Norte: +22% e Sul: +50%. Quanto às características dos pacientes, 8537 (64%) foi do sexo masculino; 6456 (48%) de cor parda; 7136 (54%) entre 20 e 59 anos e 5600 (42%) de 60 anos ou mais. Conclusões: A partir dos resultados obtidos, é possível observar uma redução expressiva das internações por sequelas de hanseníase no país, em consonância com a redução da taxa de detecção da doença nesse mesmo período. Entretanto, podemos observar que esse declínio não é universal, com ampliação dos internamentos nas regiões Norte e Sul. As características clínico-epidemiológicas desses pacientes internados são compatíveis com o perfil epidemiológico dos portadores da própria hanseníase, mas chamam atenção com maior prevalência das sequelas na população economicamente ativa. Portanto, esses dados reforçam a importância do diagnóstico e tratamento precoces da doença.