Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

LEUCEMIA AGUDA DE FENÓTIPO MISTO MIELOIDE/LINFOIDE T EM PACIENTE COM ANEMIA FALCIFORME

  • GHFD Santos,
  • L Israel,
  • MEBT Souza,
  • SPDR Alves,
  • SR Rigo

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S391 – S392

Abstract

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Introdução: A anemia falciforme (AF) é um distúrbio hereditário homozigótico que leva à formação de hemoglobina S (HbS), alterando a estrutura das hemácias para o formato de foice através da polimerização da hemoglobina (Hb) anormal, resultando em hemólise e vaso-oclusão 1. A Leucemia Aguda (LA) de fenótipo misto ou bifenotípica compreende leucemias com características fenotípicas mieloides e linfoides em uma única população de blastos 11. O objetivo do trabalho é relatar um caso de leucemia de fenótipo misto em paciente com AF. Caso clínico: Paciente do sexo masculino, 42 anos, com AF realizava acompanhamento e uso contínuo de hidroxiureia, mantendo controle sintomático e Hb basal de 12 g/dL. Em janeiro/2023, apresentou crise vaso-oclusiva com dores difusas e queda da Hb para 7,2 g/dL e elevação das provas de hemólise, com necessidade de tratamento hospitalar em inúmeras ocasiões nos 2 meses seguintes. Em março/2023, paciente apresentou hemograma com presença de blastos, sendo encaminhado para serviço de onco-hematologia para atendimento, com Hb 8,9 g/dL, plaquetas 118.000/mm3 e leucócitos 6235/mm3, com 56% de blastos de tamanho médio, com relação núcleo-citoplasmática intermediária e presença eventual de bastões de Auer. A análise de medula óssea (MO) por citometria de fluxo, apresentou 21,2% de células blásticas com coexpressão de antígenos mieloides (CD13, CD33, CD117, MPO) e antígenos linfoides T (CD3 citoplasmático, CD7), sendo compatível com Leucemia Aguda de fenótipo misto T/Mieloide, com cariótipo com t(5;12) (q31;p13), del(7)(q21), -18, -19. Paciente realizou tratamento de indução, havendo refratariedade, com hemograma recuperado com 65% de blastos com fenótipo idêntico ao inicial. Submetido a 2ª linha de tratamento, evoluiu com neutropenia febril e evasão hospitalar, retornando em choque séptico e evoluindo a óbito. Discussão: Estima-se que o risco de neoplasias hematológicas na população com doença falciforme é de 2 a 11 vezes maior do que na população geral, apesar de mecanismo não bem estabelecido, a o alto turnover medular óssea pode gerar acúmulo de mutações somáticas e acelerar o processo de envelhecimento das células progenitoras hematopoéticas. O uso contínuo de HU interfere no processo de reparo do DNA, podendo gerar mutações adquiridas e, possivelmente, alteração leucêmica 6,7,12. A ausência de condições predisponentes à LA, como exposição a substâncias radioativas, doença mieloproliferativa ou propensão genética conhecida3, reforça a hipótese da AF e seu tratamento como principal fator na gênese da LA. Na revisão de literatura não foi encontrado relato de caso de leucemia de fenótipo misto em pacientes com anemia falciforme. A presença de cariótipo complexo e deleção do 7q, classificando a doença como de alto risco citogenético, possivelmente relacionan-se à refratariedade da doença ao tratamento quimioterápico. Conclusão: O caso apresentado demonstra rara evolução de um paciente com AF com quadro de leucemia aguda de fenótipo misto, evidenciando como a AF e seu tratamento com hidroxiureia, pode gerar mutações adquiridas que favorecem a transformação leucêmica. Há a necessidade de um monitoramento rigoroso e contínuo dos pacientes com AF, particularmente aqueles em uso prolongado de HU, para a detecção precoce e manejo adequado de complicações hematológicas graves como a LA.