Revista Portuguesa de Cardiologia (Jun 2016)

Endocardite de dispositivos, revisão com base na experiência de um centro

  • Andreia Fernandes,
  • Miryan Cassandra,
  • Joana Trigo,
  • José Nascimento,
  • Maria Carmo Cachulo,
  • Rui Providência,
  • Marco Costa,
  • Lino Gonçalves

Journal volume & issue
Vol. 35, no. 6
pp. 351 – 358

Abstract

Read online

Resumo: Introdução: O número de infeções associadas com dispositivos cardíacos tem aumentado exponencialmente ao longo dos anos. Estas infeções associam‐se a elevada morbimortalidade. A sua epidemiologia na região centro do país não é conhecida. Objetivo e métodos: Pretende‐se caracterizar a nossa população de doentes com infeções de dispositivo através dum estudo retrospetivo, incluindo 3158 doentes consecutivos que implantaram dispositivos no nosso centro, entre janeiro de 2008 e setembro de 2014, e realizar uma revisão do tema à luz do estado da arte. Resultados: A taxa de infeção na nossa população foi de 1,48% (pacemakers 1,21%, desfibrilhadores e dispositivos de ressincronização 5,40%). A população inicial era constituída por 47 doentes. Tinham idade média de 65 ± 19 anos e predomínio do género masculino (72,3%). Foram predominantemente infeções em pacemakers, após primeira implantação e com surgimento tardio. A apresentação clínica foi variada, apresentando‐se a maioria com febre e alterações inflamatórias locais. Identificaram‐se nas hemoculturas, predominantemente, microrganismos gram positivos. A antibioterapia empírica inicial realizada foi vancomicina associada a gentamicina em 57% dos casos; extração do dispositivo foi realizada em 72%. Durante o seguimento (32 ± 22 meses) morreram oito doentes (17%), sete dos quais de causa cardiovascular (15%) e verificaram‐se sete reinternamentos por reinfeção (15%). Conclusão: A taxa de infeção é baixa e semelhante a outras séries, sendo superior em desfibrilhadores e dispositivos de ressincronização. Após a admissão inicial para tratamento antibiótico ± extração, o prognóstico foi bastante favorável. Abstract: Introduction: The incidence of cardiac implantable electronic device infections has increased significantly over the years and they are associated with significant morbidity and mortality. The epidemiology in the Central region of Portugal is not known. Objective and methods: To characterize cardiac implantable electronic device infections through a retrospective study of 3158 patients admitted to our center between January 2008 and September 2014 and to review the subject in the light of the current state of the art. Results: The infection rate was 1.48% (pacemakers 1.21%, cardiac defibrillator/resynchronization devices 5.40%). The study population consisted of 47 patients with a mean age of 65±19 years, predominantly male (72.3%). Infections were mainly of pacemakers, the main device implanted in our population (n=2954), and most occurred late after first implantation. Clinically, most patients presented with fever and local inflammation. Blood cultures identified mainly Gram‐positive microorganisms. Empiric antibiotic therapy with vancomycin was instituted in all patients, associated with gentamicin in 57%. The device was extracted in the majority of cases (72%). During follow‐up (32±22 months) eight patients died (17%), seven of cardiovascular cause (15%), and seven were readmitted with device infection (15%). Conclusions: Our rate of infection was low, similar to other published series, with a higher rate in cardiac defibrillator/resynchronization devices. After standard treatment with antibiotic therapy and device extraction, the prognosis was good. Palavras‐chave: Dispositivos cardíacos, Pacemakers, Cardiodesfibrilhador implantáveis, Dispositivos de ressincronização, Endocardite infeciosa, Keywords: Cardiac device, Pacemakers, Cardiac defibrillator, Resynchronization device, Endocarditis