Psicologia & Sociedade (Dec 2005)

A reclamação nas organizações do trabalho: estratégia defensiva e evocação do sofrimento Complaints in work organizations: defense strategy and evocation of suffering

  • Fernanda Sansão Hallack,
  • Claúdia Osório da Silva

DOI
https://doi.org/10.1590/S0102-71822005000300011
Journal volume & issue
Vol. 17, no. 3
pp. 74 – 79

Abstract

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Este artigo pretende pesquisar a reclamação no discurso dos trabalhadores das organizações na perspectiva teórica de Christophe Dejours. Baseando-se na concepção de que o trabalho é uma das possibilidades do sujeito vivenciar seu sofrimento e tentar dominá-lo, reconhece-se a existência de um sofrimento criador enquanto estado de luta contra a organização do trabalho que muitas vezes conduz ao adoecimento. A reclamação evoca o sofrimento tornando-se uma estratégia de vinculação grupal poderosa enquanto construção de sentido intersubjetivo através dos laços discursivos, na tentativa de resistência grupal à doença. Um forte elo de união entre os membros de uma equipe de trabalho e por isso um mecanismo de defesa grupal mais eficiente e menos custoso do que tentativas de defesa individuais. Por outro lado, paradoxalmente, um mecanismo de defesa que, justamente por demonstrar a falência de outras tentativas individuais de proteção contra o sofrimento, contribui inclusive para os objetivos da própria organização do trabalho e também para o conformismo, a repetição e a estagnação dos sujeitos.This article intends to research the role of complaints in the discourse of workers of work organizations, as seen from Christophe Dejours's theories and central concepts. Based on the conception that work is one of the possibilities of intensely experiencing one's suffering and trying to overcome it, one becomes aware of a creative suffering as a rebellious stance against the organization of work. Complaints evoke suffering as a powerful group bonding strategy whereas the construction of an intersubjective meaning through the ties produced by discourses in the group in the attempt to resist illness as a group. Strong ties of union among the members of a work team result in a group defense mechanism that is more efficient and less expensive than the individual ones. On the other hand, paradoxically, it is a defense mechanism that, demonstrating the failure of other individual attempts of protection against suffering, contributes to the organization's objectives and also to the resignation, repetition and stagnation of the individual.

Keywords