Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL POR INCOMPATIBILIDADE ABO: UM RELATO DE CASO

  • EFGD Santos,
  • SI Pozzer,
  • ENP Florentino,
  • PMN Teixeira,
  • JCI Gazola

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S615 – S616

Abstract

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O sistema ABO de grupos sanguíneos é determinado por antígenos presentes na superfície dos glóbulos vermelhos. Produzimos potentes anticorpos contrários a expressão de nossos antígenos ABO, que são de ocorrência natural e regulares, estes são responsáveis por destruição eritrocitária aguda no caso de transfusões ou até mesmo gestações ABO incompatíveis. A Doença Hemolítica Perinatal (DHPN) é um distúrbio que ocorre quando existe incompatibilidade sanguínea entre a mãe e o feto, resultando em hemolise (destruição de eritrócitos) no feto. A incompatibilidade ABO, Rh e Kell (classificadas nesta ordem de acordo com sua gravidade), são as condições mais comuns de DHPN, ocorrendo através do mecanismo de incompatibilidade causada por antígenos e anticorpos correspondentes preexistentes no caso da incompatibilidade ABO e por aloimunização prévia no caso do sistema Rh e Kell. Esses anticorpos causam a destruição e diminuem a sobrevida dos eritrócitos do feto ou neonato que pode causar o aumento da bilirrubina na corrente sanguínea, que é uma substância resultante da degradação da hemoglobina livre, causando como um dos principais sintomas: a coloração amarelada no RN (icterícia); A hiperbilirrubinemia pode acarretar o desenvolvimento do Kernicterus que é um tipo de dano cerebral que causa lesões como paralisia neurológica, surdez, problemas de visão e dificuldade de desenvolvimento intelectual. Esse processo ocorre quando a bilirrubina indireta impregna os núcleos celulares de base. Em nossa instituição observamos um caso em janeiro de 2023, onde o neonato apresentava tipagem sanguínea A RhD positivo e a mãe a tipagem O RhD positivo, o RN teve uma considerável alteração em seus exames laboratoriais com aumento de bilirrubina indireta de 20,81 mg/dl e reticulócitos de 40,5% nas primeiras 24h de vida, necessitando de cuidados especiais como fototerapia intensiva e suporte ventilatório. Aos exames imunohematológicos do RN, observamos em seu primeiro Teste da Antiglobulina Direto (TAD) um resultado negativo, positivando somente após o início dos sintomas. Após 96 horas de avaliação, com as medidas realizadas obteve-se uma queda da bilirrubina indireta para 5,97 mg/dL e reticulócitos para 10,0%. Foi realizado em nível de estudo, o teste de hemolisina no sangue da mãe e este se apresentou resultado positivo 4+/4+ para A e 3+/4+ para B. Esses anticorpos Anti-A e Anti-B são regulares e naturais, frequentemente são IgM mas podem se apresentar como IgG, esta forma tem capacidade de atravessar a barreira placentária destruindo hemácias fetais. Na maioria dos casos as manifestações clínicas são amenas necessitando somente de fototerapia (em geral de 24h a 72h), em raros casos como o descrito, o RN necessita de cuidados especiais podendo raramente chegar a necessidade de um exsanguineo transfusão que é a troca total do sangue do RN. Estudos apontam que a incompatibilidade ABO materno fetal gira em torno de 15% a 25%, a detecção ocorre no TAD (padrão outro) pois indica a presença de anticorpos fixados na superfície da hemácia, esse teste detecta no mínimo 150 moléculas fixadas por eritrócito. Nesse caso relatado, obteve-se uma melhora clinica importante e o paciente recebeu alta hospitalar após as medidas realizadas. Tais casos alertam para a importância dos testes do RN, além da melhoria das técnicas. Hoje trabalhamos com a técnica em tubo e temos conhecimento de melhores técnicas como a em Gel teste, que apresenta maior sensibilidade aos resultados garantindo eficaz e precoce intervenção com medidas preventivas mesmo sem os sintomas aparentes, prevenindo assim uma piora significativa do quadro clínico levando a sequelas neurológicas, retorno pós alta em caráter de urgência com complicações no quadro e até mesmo óbito do recém-nascido.