Kalagatos (Jun 2024)
Psicodelia e o Exterior: A Farmácia do Xamã
Abstract
Nesse ensaio busco apresentar o sentido de psicodelia como algo que extrapola dimensões mentais, questionando justamente o caráter “psi” – também trazido sob a forma de alteração da consciência – como elemento central para pensar a experiência envolvida. Para tanto, em primeiro lugar saliento a vocação ascética da filosofia – de Platão a Descartes – a partir das posições críticas de Nietzsche, Jacques Derrida e Denise Ferreira da Silva. A busca da “transparência” envolve uma consciência pura e, por isso, a repulsa ao pharmakon. No entanto, jamais foi possível realizar a “consciência” sem o auxílio de arfetatos “externos”: a escritura, ou o pharmakon, é o termo que atravessa as oposições entre puro e impuro. A partir disso, contrasto a experiência xamânica com a experiência psicodélica, apresentando um contraponto comparativo a partir da antropologia simétrica e da espectrologia que nos permite pensar o xamanismo – pensado a partir de A Queda do Céu, de Davi Kopenawa e Bruce Albert. Enquanto os brancos “só sonham consigo mesmos”, o xamã traça uma aliança com as “plantas mestras” a fim de desencadear uma viagem para o Exterior, e não para uma interioridade recalcada, mística ou alucinatória.