Revista Subjetividades (May 2016)

Amor e saber na experiência analítica

  • Bruna Pinto Martins Brito,
  • Vera Lopes Besset

Journal volume & issue
Vol. 8, no. 3
pp. 681 – 703

Abstract

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A oferta da construção de um saber sobre si e seu sofrimento marca a peculiaridade da proposta da psicanálise. Assim, no início do século XX, o jovem oficial que mais tarde ficou conhecido como ‘O homem dos ratos’ procurou Freud porque vislumbrou esclarecimentos para seus estranhos pensamentos em um livro desse autor. Em princípio, é porque ‘quer saber’ o que lhe faz sofrer que um sujeito procura um analista. Desde os primórdios da clínica psicanalítica, a especificidade da concepção de saber é marcada por sua relação com o inconsciente. É que se pode vislumbrar mesmo na escolha do termo alemão Unbewusst, que aponta para um ‘saber que não se sabe’ para designar o inconsciente. Avançando nessa vertente, Lacan apresenta o inconsciente freudiano como ‘inteiramente redutível a um saber’. Esse saber, particular, próprio a cada um, inalienável, deve ser construído em cada caso. Todavia, nos dias atuais, essa proposta entra em desarmonia com a de um saber ‘universal’, ‘para todos’, prometido pela ciência. No que concerne o sofrimento psíquico, tal saber é colocado à disposição do público por especialistas que promovem avaliações padronizadas, anulando aquilo o que é próprio a cada um. Na contramão dessa corrente, a psicanálise abre mão dos questionários e manuais, instrumentos da avaliação. Então, como, a partir dela, ter acesso ao saber? Essa é a questão que norteia este artigo. Para tal, seguiremos a indicação freudiana de que esse acesso se faz pela via do amor, amor transferencial, confiança depositada no analista. Pela transferência, o analista se encontra na posição de saber suposto. Isso permite àquele que fala se interessar por saber. Todavia, frente à configuração da cultura atual, em uma época regida pela desconfiança, interessa-nos refletir sobre os obstáculos no caminho do estabelecimento desta experiência.

Keywords