Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)

TRANSMISSÃO DA FORMA ESPORÁDICA DA DOENÇA DE CREUTZFELDT- JAKOB POR TRANSFUSÃO: REVISÃO DE LITERATURA

  • ER Meneses,
  • BCF Borges,
  • DG Britto,
  • LCV Sales,
  • LR Gomes,
  • MM Maciel,
  • NSA Ferreira,
  • RC Rebelo,
  • TAB Batista,
  • DS Oliveira

Journal volume & issue
Vol. 43
p. S359

Abstract

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Objetivo: O intuito do presente resumo é avaliar a transmissibilidade da forma esporádica da doença de Creutzfeldt-Jakob (sDCJ) por transfusão de sangue e de hemocomponentes. Materiais e métodos: Trata-se de uma revisão de literatura realizada por meios da busca de artigos nas plataformas eletrônicas “PubMed”e “SciELO”utilizando, para fins de pesquisa, os descritores “Creutzfeldt-Jakob Syndrome”AND “Blood transfusion”. Os critérios de inclusão foram: artigos originais em inglês publicados entre 2009 e 2020, disponíveis na íntegra e com temática referente ao assunto abordado. A partir da busca, foram então relacionados 7 artigos para a produção desta revisão. Resultados: Utilizando como base o banco de dados Scandinavian Donations and Transfusion, um estudo analisou 39 doadores de sangue com diagnóstico posterior de sDCJ e 883 receptores de hemocomponentes desses indivíduos. Não foram encontradas evidências de transmissão de sDCJ por transfusão nesse grupo. A partir da análise do banco de dados de transfusões do Reino Unido de 1980 a 2015, uma pesquisa selecionou os 29 doadores com sDCJ, para os quais estavam mapeados os receptores das transfusões, os quais perfizeram uma amostra de 211 pacientes. Destes, somente 5 morreram de causas associadas à doença (demência), mas em circunstâncias que afastaram o possível contágio, dada a elevada média de idade na ocasião do óbito (88 anos). Uma pesquisa conduzida a partir da análise de dados da UK National DCJ Surveillance comparou a história prévia de transfusões em um grupo de indivíduos com sDCJ (n = 987) e outro grupo não portador dessa condição (n = 159) em uma análise retrospectiva de 20 anos de seguimento. Não houve significância estatística entre o histórico de transfusão e o desenvolvimento posterior da patologia (p-valor > 0,05). De modo semelhante, outro estudo retrospectivo de 21 anos de vigilância identificou 65 doadores de sangue e de hemocomponentes posteriormente diagnosticados com a doença (indistintamente quanto às diferentes formas) e 826 destinatários. Nenhum caso de DCJ transmitido por transfusão foi reconhecido a partir dessa investigação. Discussão: Após ser observada a transmissão da doença de Creutzfeld-Jakob variante (vDCJ) por transfusão sanguínea no Reino Unido, buscou-se verificar a possibilidade de a forma esporádica dessa patologia, a mais prevalente, também possuir essa via de contaminação. Muito embora algumas publicações tenham indicado a existência de príons e proteínas mal-dobradas no sangue de pacientes com DCJ, nenhum dos estudos relatados verificou evidências, em termos quantitativos, de transmissão dessa forma da doença por via transfusional (sangue e hemoderivados). Há, outrossim, unanimidade quanto à necessidade de maiores pesquisas nesse âmbito, tanto para corroborar estatisticamente os resultados dos estudos existentes quanto para fomentar técnicas que visem otimizar a detecção de príons no sangue de doadores, aperfeiçoando, assim, a triagem para doadores portadores de DCJ. Conclusão: Dessa forma, conclui-se que não há evidências substanciais na literatura quanto à relação positiva entre transmissão de sDCJ e transfusão de sangue e hemoderivados. Deve-se, contudo, ampliar o escopo de investigações nesse sentido para principalmente robustecer, sob a perspectiva estatística, os dados atualmente existentes.