Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

MORBIDADE DA HEMORRAGIA PÓS-PARTO NO BRASIL: ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO

  • AG Esmeraldo,
  • GHO Trévia,
  • GWC Linhares,
  • IS Sousa,
  • KSF Araujo,
  • MF Azevedo,
  • RGM Araújo,
  • RE Romero-Filho,
  • RF Pinheiro-Filho,
  • TP Cavalcante

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S970

Abstract

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Objetivos: Analisar os dados sobre as taxas de internação e de morbidade devido à hemorragia pós parto (HPP) por região do Brasil, com o escopo de mensurar o impacto dessa enfermidade hematológica no sistema de saúde nacional. Métodos: Trata-se de um estudo retrospectivo, com dados do Sistema de Informações de Saúde (TABNET), na aba Morbidade Hospitalar do SUS Geral por local de Residência, sendo escolhida a linha “Região”, coluna “Não ativa” e conteúdos “internações” e “taxa de mortalidade”. Foram selecionadas todas as categorias da variável região e a Lista de Morbidades do CID-10 para HPP. O período selecionado foi janeiro de 2021 a maio de 2023. Resultados: Os dados foram obtidos com variáveis: região Norte, região Nordeste, região Sudeste, região Sul, região Centro-Oeste. Foram encontrados um total de 6.523 casos de internações por HPP, no período selecionado. A região mais acometida do país foi a Sudeste com 2.679 notificações, seguida do Nordeste (1.887), Sul (1.203), Centro-oeste (415) e Norte (339). A taxa de mortalidade segundo região por hemorragia pós-parto foi mais evidente no Sul (1,25), seguida do Nordeste (0,90), Sudeste (0,75), Centro-oeste (0,72) e Norte (0,59). Discussão: Em primeira análise, define-se a hemorragia pós-parto (HPP) como a perda de sangue maior que 500 mL após parto normal ou acima de 1000 mL após procedimento cesáreo. Classifica-se em HPP primária aquela que ocorre nas primeiras 24 horas após o parto e em HPP secundária aquela que acontece depois desse limite de tempo até seis a doze semanas. A maioria dos casos estão inseridos na HPP primária e possuem como fatores desencadeantes, principalmente, a atonia uterina, o acretismo placentário e problemas de coagulação. Dados estatísticos apontam que o distúrbio supracitado é responsável por 25% dos óbitos maternos em todo o mundo e, no Brasil, é tido como a maior causa de mortalidade materna. Em segunda análise, evidencia-se que fatores como baixa renda familiar, condições socioeconômicas desfavoráveis e dificuldade de acesso à rede de saúde estão intrinsecamente relacionados ao prognóstico de mulheres que sofrem com HPP. Como demonstram os resultados, o Nordeste, desfavorecida no que tange à fragilidade de recursos, possui o segundo maior número de internações por HPP do território nacional, ao passo em que a região Sul, reconhecida, muitas vezes, pela qualidade de vida referente à região, apresentou 684 internações de diferença em relação ao Nordeste. Semelhantemente, a região Sul apresentou a maior taxa de mortalidade (1,25) seguida do Nordeste. Os valores discrepantes, a exemplo da diferença de 2.340 internações entre o local de maior taxa e o de menor, demonstram destoância em um mesmo território, possivelmente ligada à má gestão de recursos. Conclusão: O estudo demonstra que as internações hospitalares por HPP predominam nas regiões sudeste e nordeste, tendo sua menor taxa de incidência na região Norte. A prevalência de mortalidade por essa enfermidade foi mais acentuada no Sul, em discrepância com as outras regiões. Tais dados fortalecem a premissa de desigualdade social e econômica no território nacional. Assim, faz-se necessária a redistribuição dos recursos nacionais e a implementação de políticas públicas locais, com o fito de melhorar o prognóstico de mulheres que são acometidas com HPP no Brasil e, dessa forma, reduzir a mortalidade desencadeada por essa complicação.