Archivos Latinoamericanos de Nutrición (Dec 2005)
Tratamento de Crianças com Desnutrição Grave Utilizando o Protocolo da OMS: Experiência de um Centro de Referência, São Paulo/Brasil Tratamento de crianças com desnutrição grave
Abstract
O objetivo desse estudo foi descrever as principais causas de internação e doenças associadas em crianças gravemente desnutridas (DEP), avaliar a mortalidade, evolução antropométrica e terapia nutricional, utilizando protocolo da Organização Mundial de Saúde - OMS). Em estudo retrospectivo, descritivo e transversal, avaliou-se 191 prontuários de crianças portadoras de DEP grave. Utilizou-se os indicadores antropométricos na forma de escore-z (peso/idade-ZP, estatura/idade-ZE e peso/estatura-ZPE) para classificação e avaliação da evolução nutricional durante a internação. As crianças foram divididas em 3 grupos (G): GI (desnutrição primária-30,9%), GII (desnutrição secundária-51,7%) e GIII (crianças que foram admitidas como GI e que durante a internação identificou-se alguma doença associada a DEP - 12%). A terapia nutricional baseou-se nas normas da OMS, 1999, com algumas modificações. Utilizou-se sempre fórmulas industrializadas: isenta de lactose (crianças com diarréia e na fase de estabilização), baixo teor de lactose (crianças sem diarréia e na fase de recuperação) e hidrolisado de proteínas do soro de leite de vaca (crianças com diarréia crônica e/ou sepse). Análise estatística: teste t-student, qui-quadrado e regressão linear simples. A mediana de idade foi de 10,3 meses e o índice de letalidade de 4,2%. As crianças do GI e GII eram mais velhas (11vs12vs7 meses,p=0,02) e permaneceram menos tempo internadas do que as do G III (20vs22vs37 dias,p=0,010). O risco de morte no GIII foi duas vezes maior (GIII>GII+GI; 8,7% vs 3,6%, p=0,25). Pneumonia, diarréia e baixo ganho ponderal foram os diagnósticos mais freqüentes a admissão. Sonda foi utilizada com maior freqüência no GII e GIII em relação ao GI (p=0,004). Nutrição parenteral foi indicada em apenas 5,7% das crianças (GII+GIII>GI,p=0,037). Intolerância a dieta inicialmente instituída foi observada em apenas 20% das crianças. Observou-se 87%, 74,1% e 22% de melhora em relação ao ZPE, ZP e ZE, respectivamente. O ZP no GI e o ZPE no GIII foram os indicadores que mostraram melhora mais efetiva durante a internação. O protocolo modificado da WHO foi efetivo no tratamento interprofissional de crianças portadoras de DEP grave, resultando em boa reabilitação nutricional com baixos índices de mortalidade. Observou-se alto percentual de crianças admitidas como DEP primário que tinham alguma doença associada. O atraso no diagnóstico pode ser responsável pelo maior tempo de internação e dos índices de mortalidade.To describe the main causes for internation and associated diseases in severe malnourished children. To evaluate mortality rate, anthropometric development and nutritional therapy with the use of World Health Organization guidelines (WHO) were assessed. In a cross-sectional retrospective study 191 hospitalized malnourished children were assessed. To classify and evaluate nutritional rehabilitation Z-score was used: weight-for-age (ZW), height-for-age(ZH) and weight-for-height(ZWH). The children were divided in three groups (G): GI (primary malnutrition-30,9%), GII (secondary malnutrition-51,7%) and GIII (children who were admitted as GI but during internation had an identified chronic disease-12%). Nutritional therapy used was based on WHO guidelines, with slight modifications. The formulas chosen were all industrialized: lactose-free polymeric formula (PLF) for children with diarrhea, low lactose polymeric formula (PLL) for children without diarrhea and cow’s milk hydrolysate (H) for sepsis or chronic diarrhea. In the rehabilitation phase, all the children used PLL formula. Statistical analysis: Student’s, chi-square tests, simple linear regression. The median age and mortality rate were 10,3 months and 4,2%, respectively. The GI and GII children were older than GIII (11vs12vs7months,p=0,02) and had shorter length of stay (20vs22vs37days,p=0,010). Mortality risks in GIII were twice as frequent as in GI+GII. Pneumonia, diarrhea and poor weight gain were the main diagnosis at admission. Tubes were used more frequently in GII+GIII than GI (p=0,004). Parenteral nutrition was indicated in 5,7% of children, more often in GIII than GI+GII (p=0,037). Tolerance of the initial formula wasn’t satisfactory in 20% of the children. An improvement of 87% ZWH, 74,1% ZW and 22% was observed. ZW in GI and ZWH in GIII were the indices that showed the most effective gain during hospital stay. The modified WHO guidelines were effective in the multiprofessional treatment of malnourished children, resulting in good nutritional rehabilitation with low mortality rates. A high percentage of children admitted as primary malnutrition who had a chronic disease diagnosed was observed. The late diagnosis may be responsible for the high length of stay, formula intolerance and mortality risk.