Textos & Contextos (Porto Alegre) (Jan 2023)
Margaridas Africanas, trabalhadoras negras do serviço público municipal de Porto Alegre: fios e tramas do racismo estrutural = African Daisies, black women workers in the municipal public service of Porto Alegre: threads and weaves of structural racism
Abstract
Este artigo aborda o tema das trabalhadoras negras no serviço público municipal de Porto Alegre, evidenciando suas histórias de vida e trajetórias profissionais no contexto do racismo estrutural, no período pós-1990. Para fins de investigação, a problematização do estudo partiu das trajetórias profissionais das trabalhadoras negras do município, que atuam nas áreas de educação, saúde e assistência social. A metodologia utilizada teve como aporte teórico-metodológico o materialismo histórico-dialético, de modo que foi realizada uma pesquisa exploratória e descritiva analítica, com aplicação da técnica de triangulação das informações. Ademais, se utilizou a história oral para a escuta das histórias e trajetórias no contexto do racismo estrutural, que afeta diretamente as mulheres negras ao longo de suas vidas, com questões relacionadas à classe, ao gênero e à raça. Foram entrevistadas seis mulheres negras servidoras públicas de Porto Alegre, militantes da luta antirracista. Também foi usada a técnica da análise documental sobre servidores(as) públicos(as) negros(as) na Prefeitura de Porto Alegre. Como resultado, constatou-se que, do total de servidores(as) públicos(as), 6,11% são servidoras negras. E, dentre as servidoras mulheres, 10,29% são negras. Verifica-se que os fios e as tramas do racismo estrutural, tendo como protagonistas as mulheres negras servidoras públicas de Porto Alegre, apontam o entrelaçamento entre classe, raça e gênero, demonstrando as formas de luta e resistência das mulheres negras em seu tempo sócio-histórico. Os resultados evidenciam a histórica desigualdade que afeta as mulheres negras trabalhadoras na sociedade capitalista/racista e o acirramento desta pós-golpe de 2016. O racismo estrutural se particulariza no trabalho, na realidade e na vivência das mulheres negras servidoras públicas da Prefeitura, onde se constatou que todas as servidoras negras pesquisadas sofreram e sofrem racismo em seus locais de trabalho, de diversas maneiras. Conclui-se que as lutas sociais vividas pelas trabalhadoras negras servidoras do município, especialmente no que diz respeito às formas de organização e resistência contra o racismo estrutural e o racismo institucional no serviço público municipal, fortalecem a resistência como um aspecto central para a luta pela emancipação humana, sendo esta permanente, em um processo histórico contínuo e no leito da luta