Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

DIAGNÓSTICO DE HEMOFILIA EM ADOLESCENTE, CONFIRMADO A PARTIR DE EPISÓDIO HEMORRÁGICO PÓS-EXODONTIA: RELATO DE CASO

  • GSE Silva,
  • QM Nóbrega,
  • RAL Aguiar,
  • MDCS Assunção,
  • LD Portugal,
  • CN Alexandre

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S1167 – S1168

Abstract

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Introdução: A Hemofilia é uma coagulopatia hereditária caracterizada clinicamente por sangramentos em musculatura profunda, articulações, e pós-procedimentos cirúrgicos, sobretudo na boca. O cirurgião dentista desempenha função primordial na equipe inter e multidisciplinar de atendimento a hemofílicos. Objetivo: Relatar um caso clínico definidor para o diagnóstico tardio de hemofilia em paciente adolescente. Relato de caso: Paciente masculino, 14 anos, branco, residente Manaus-AM, foi internado em Pronto Socorro (PS) devido hemorragia bucal, após submetido a exodontia de 1o molar. Como manobra inicial, foi realizada rafia local para o controle hemorrágico e transfusão de CRIO e PFC, prescrição de Ceftriaxona e Clindamicina. Os exames laboratoriais iniciais não apontavam alterações, mas sem o controle adequado do sangramento, o adolescente foi encaminhado ao centro de referência para tratamento de doenças hematológicas e onco-hematológicas, depois dos 23 dias internado. Na anamnese, negou histórico familiar relacionado a coagulopatias e sangramentos espontâneos ou por traumas semelhantes. Paciente apresentava ansiedade elevada, estado psíquico de apreensão e medo, assimetria facial, edema lado esquerdo e usando sonda nasogástrica. No exame intraoral, ferida cirúrgica aberta no palato, estendendo-se da região entre os dentes 22 e 27, sangramento espontâneo e abundante, bordas irregulares, hiperplasiadas, áreas eritematosas, tecido de granulação e coágulos mal formados. O hemograma e coagulograma apresentavam dentro dos padrões de normalidade. O controle hemorrágico, precedeu por higienização técnica da ferida cirúrgica com solução fisiológica e clorexidina 0,12%, tamponamento à base de ácido tranexâmico em forma de pasta, com reposicionamento diário. As manobras foram suficientes para o controle do sangramento local e alta hospitalar depois de 3 dias. Contundo, manteve-se a suspeita de distúrbios da coagulação, pois a transfusão dos hemoderivados, possivelmente, mascarou o resultado. Novos exames foram solicitados 7 dias depois, a fim de ampliar a investigação. O TTPA elevado, 44,60 segundos, foi esclarecedor para guiar a hipótese e confirmar o diagnóstico de Hemofilia A leve (FVIII = 19.4%). Na investigação familiar, um dos irmãos teve o mesmo diagnóstico. Resultados: A interação cirurgião dentista e equipe médica foi essencial para o controle hemorrágico e definição diagnóstica. O adolescente foi incluído no programa integral de acompanhamento e tratamento ao hemofílico. Discussão: A forma leve da hemofilia A pode dificultar o diagnóstico precoce, às vezes sangramentos são discretos ou ocorrerão devido a traumas severos ou complicação cirúrgica. O cirurgião dentista poder ser o primeiro profissional a suspeitar da hemofilia, pelas condições geradas nos procedimentos odontológicos e ainda contribuir no diagnóstico, mesmo que tardio. As condutas são desafiadoras, devido à complexidade do processo diagnóstico, escassez de protocolos padronizados e quiçá profissionais capacitados no atendimento a hemofilia. Conclusão: O conhecimento clínico sobre hemofilia, talvez seja uma dificuldade enfrentada por profissionais de saúde, pois episódios hemorrágicos tendem a ocorrer e agravar se não tomadas as condutas adequadas, o que retarda o diagnóstico, aumenta o tempo de internação e riscos à qualidade de vida do paciente.