Cinema & Território (Dec 2020)

"O poço", de Galder Gaztelu-Urrutia: a distopia de um panóptico contemporâneo

  • Jaqueline Castilho Machuca

DOI
https://doi.org/10.34640/UNIVERSIDADEMADEIRA2020MACHUCA
Journal volume & issue
no. 5
pp. 191 – 194

Abstract

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Para além de tematizar a luta de classes - de forma orgânica e extremamente violenta - "O poço" (2019), dirigido pelo basco espanhol Galder Gaztelu-Urrutia, é um filme cujo protagonista se assemelha a um herói medieval. A fim de alimentar igualmente os detentos dos 333 andares de uma prisão vertical, Goreng, interpretado por Iván Massagué, é o mártir do enredo, sacrificando-se pelo “bem comum”, ainda que isso custe outras vidas. Repleto de intertextualidades com clássicos literários, como "Dom Quixote" e "A divina comédia", a longa se ambienta nesse território claustrofóbico de privação de liberdade. A proposta dessa recensão é analisar a narrativa na perspectiva de Michel Foucault, para o qual o sistema carcerário atual, embora tenha apagado o corpo supliciado, esquartejado, amputado, nos seus dispositivos mais explícitos, ainda aplica certas medidas de sofrimento físico. No filme, o vigiar e punir - como propõe a estrutura do panóptico - também é reflexo das relações de poder, não apenas entre uma administração invisível que prepara banquetes que nunca chegam aos últimos andares, como no trato entre os pares que dividem as celas e entre aqueles que estão nas plataformas superiores e inferiores.

Keywords