Interseções (Jun 2017)
“O mercado é nosso amigo, nós é que não sabemos compreendê-lo”: o trading financeiro entre o otimismo quantitativo e a descrença
Abstract
Este artigo toma por objeto os índices financeiros, entendidos como expressões quantificadas do sentimento dos investidores e, ao mesmo tempo, como face visível do mercado. A constituição desses indicadores técnicos como objeto etnográfico permite alargar o âmbito da antropologia das emoções, abarcando dimensões da vida coletiva que vão muito para além da esfera das relações interpessoais e das micropolíticas, aceitando ao mesmo tempo que os números e gráficos podem efetivamente integrar o repertório discursivo da vida emocional. Num primeiro momento, é feita uma apresentação do modo como os mercados financeiros globais são vistos a partir de uma sala de mercados de um banco, passando em seguida a uma descrição etnográfica da atividade situada de um trader (corretor) dias antes do crash de setembro de 2008. O artigo prossegue descrevendo o modo como os índices financeiros passaram a ser encarados após o colapso de 2008 e o escândalo da manipulação da taxa Libor(2012), concluindo com uma reflexão sobre as valências de uma etnografia dos indicadores técnicos para a antropologia das emoções.
Keywords