Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
TRANSMISSÃO VERTICAL DE AUTOANTICORPO: UM RELATO DE CASO
Abstract
Objetivo: O objetivo do relato é descrever um caso de transmissão vertical de autoanticorpo para o recém nascido (RN) por uso de metildopa durante o período gestacional. Relato de caso: C.M.V.A., 35 anos, G1C1, com histórico de hipertensão arterial sistêmica (HAS), em uso de Metildopa, fazendo-se necessário parto cesáreo por pico hipertensivo e restrição de crescimento intrauterino. RN pré-termo de 31 semanas mais 4 dias, com indicação de transfusão de plaquetas por plaquetopenia devido a sepse neonatal precoce, sem sinais laboratoriais de hemólise. Durante a realização dos exames pré-transfusionais na metodologia gel teste (Bio-Rad), RN apresentou classificação sanguínea O Rh(D) Positivo, Pesquisa de Anticorpos Irregular (P.A.I.) negativa, Coombs Direto (TAD) Poliespecífico positivo (2+), TAD Monoespecífico gG (3+) IgA (0) + IgM (0) + C3c (0) + C3d (0), Diluição de IgG positivo até 1:10 eSubclasses IgG1 e IgG 3 negativas, Eluato inconclusivo. Foi então realizado estudo imuno-hematológico da mãe, na metodologia gel teste (Bio-Rad), classificação sanguínea B Rh(D) Positivo, P.A.I. positiva, I.A.I. auto anticorpo anti-e, TAD Poliespecífico positivo (4+), TAD Monoespecífico gG (4+) IgA (0) + IgM (0) + C3c (0) + C3d (0), Diluição de IgG positivo até 1:100 eSubclasses IgG1 positivo e IgG 3 negativa, Eluato todo positivo. Os resultados do estudo imunohematológico da mãe sugerem um quadro de Anemia Hemolítica Auto-Imune induzida provavelmente pelo uso da medicação metildopa durante o período gestacional e que houve a transmissão vertical deste autoanticorpo para o RN. Discussão: A Anemia Hemolítica Autoimune (AHAI) é definida por um nível de hemoglobina <10 g/dL com o TAD positivo. Além disso, deve haver pelo menos uma outra evidência laboratorial de hemólise (reticulócitos elevados, bilirrubina ou LDH ou hepatoglobinas reduzidas). A associação de AHAI com gravidez pode provocar anemia com risco de vida em até 50% dos casos, e natimorto ou anemia hemolítica grave pós-parto em até 40% dos bebês (Venkatachala et al., 2021). Já a doença hemolítica do feto e do recém-nascido é comumente causada por aloimunização materna de glóbulos vermelhos, com anticorpos da classe IgG que atravessam a placenta para destruir células eritróides fetais que expressam o antígeno envolvido. A amostragem direta de sangue fetal é o padrão-ouro para o diagnóstico de anemia fetal (Castleman; Moise; Kilby, 2020), o monitoramento fetal com ultrassonografia seriada deve ser iniciado a partir de 20 semanas da gestação para avaliar crescimento fetal e o Doppler a velocidade sistólica de pico da artéria cerebral média fetal para avaliar a anemia fetal, pois o teste do cordão umbilical costuma ser positivo e os anticorpos maternos podem causar anemia e icterícia nos primeiros dias ou anemia tardia em 4 a 6 semanas (Venkatachala et al., 2021). Conclusão: Com o presente relato ressalta-se a importância do estudo imuno-hematológico em todas as gestantes independente da classificação sanguínea RhD para identificar, sempre que possível a causa da AHAI, concluindo o manejo adequado, para evitar a hemólise e sintomas relacionados, promover o aumento da hemoglobina e especificamente em mulheres gestantes, atentar para a passagem dos anticorpos IgG para o feto e possíveis complicações. Neste caso, foi um achado laboratorial identificado durante a realização dos exames pré-transfusionais.