Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)

TRANSFUSÕES SANGUÍNEAS E O NÚMERO DE CASOS DE DENGUE: ANÁLISE RETROSPECTIVA DE 2008 A 2019

  • ACNR Lima,
  • AVB Araújo,
  • DG Britto,
  • GF Sá,
  • JVA Silva,
  • LR Gomes,
  • MM Maciel,
  • NSA Ferreira,
  • RC Rebelo,
  • DS Oliveira

Journal volume & issue
Vol. 43
pp. S406 – S407

Abstract

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Objetivos: Analisar estatisticamente se o consumo de hemocomponentes nos anos em que ocorreram surtos de dengue foi maior ou menor do que a mediana de transfusões de sangue no período de 2008 a 2019. Material e métodos: O trabalho foi elaborado com base em um estudo transversal retrospectivo, a partir de boletins de hemovigilância do Ministério da Saúde datados de 2008 a 2019 e do boletim epidemiológico de casos e de óbitos por dengue no Brasil no mesmo intervalo de tempo. Os resultados foram obtidos através do método de Mann-Whitney. O intervalo de confiança utilizado foi de 95%. Os testes estatísticos foram realizados pelo software R versão 4.1.0. Resultados: A partir do teste de regressão logística probit, realizou-se uma avaliação para identificar se o número de transfusões sanguíneas aumenta com o número de casos de dengue. A avaliação foi feita com base na teoria dose-resposta – doses de casos de dengue que são necessárias aumentar para ter um valor de consumo de hemocomponentes acima da mediana de transfusões de sangue no período de 2008 a 2019. Utilizou-se os valores numéricos 0, que equivale às situações nas quais não houve consumo de hemocomponentes acima da mediana, e 1 para as situações nas quais houve consumo acima da mediana. Obteve-se o p-valor de 0,16. Discussão: A partir da análise dos dados da pesquisa, verifica-se que, mesmo ocorrendo um maior número de transfusões sanguíneas durante surtos de dengue em comparação com os períodos nos quais não houve crescimento acima do esperado do número de casos dessa virose, o aumento do consumo de hemocomponentes não foi estatisticamente significante, pois o p-valor é maior que 0,05. Alguns dados da literatura mostram que a transfusão de hemocomponentes é indicada em certos casos de dengue, principalmente nas formas graves da doença, como na Febre Hemorrágica da Dengue e na Síndrome do Choque da Dengue. Esse fato corrobora com os resultados desse estudo, que demonstra aumento do número de transfusões sanguíneas em períodos de surto de dengue. Ademais, é importante ressaltar que o uso de hemocomponentes deve ser terapêutico e não profilático. Além disso, é preciso levar em consideração os riscos, avaliar as manifestações clínicas e os valores laboratoriais, e seguir as diretrizes de uso de hemocomponentes em casos de dengue, a fim de diminuir o número de transfusões sanguínea realizadas inadequadamente. Conclusão: A partir do que foi exposto, infere-se que, apesar de visivelmente ocorrer um aumento da chance de o consumo de hemocomponentes nos anos que aconteceram surtos de dengue estar acima da mediana de transfusões de sangue realizadas no período analisado, essa diferença não tem significância estatística.