Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (Aug 1990)

Thrombocytopenia and leptospirosis Trombocitopenia e leptospirose

  • Antonio Carlos Nicodemo,
  • Gildo Del Negro,
  • Vicente Amato Neto

DOI
https://doi.org/10.1590/S0036-46651990000400004
Journal volume & issue
Vol. 32, no. 4
pp. 252 – 259

Abstract

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The present study has intended to contribute to the elucidation of the pathogenic mechanisms, involved in the thrombocytopenia and in the bleeding diathesis seen in the course of Leptospirosis. The group of cases included in the present prospective study consisted of 30 patients with Leptospirosis, admitted to the Infectious and Parasitic Diseases Ward, Hospital das Clínicas, Faculty of Medicine, University of São Paulo. The following possible mechanisms of thrombocytopenia have been considered and therefore investigated: platelet consumption, due to disseminated intravascular coagulation; immune-mediated platelet destruction, due to platelet-associated antibodies and an inhibited platelet production in the bone marrow. Thrombocytopenia occurred in 86.6% of 30 patients and did not seem to be immune-mediated by platelet-associated antibodies. Furthermore it did not seem to be due to a disseminated intravascular coagulation consumption. Although there was a statistically-significant correlation between bone marrow platelet production and platelet counts we think that the static microscopic examination of a bone marrow aspirate cannot accurately depict the dynamic mechanisms of platelet production when these cells are being consumed in peripheral blood. Vasculitis should be considered as the most important factor for the pathogenesis of the bleeding disturbances in Leptospirosis. However, we believe that thrombocytopenia, uremia and coagulation disorders, individually or as a group, should be included among the contributing factors that lead to and worsen bleeding episodes, which represent the leading cause of death in this disease.O propósito do presente trabalho é colaborar para o estudo da patogenia da plaquetopenia que ocorre na Leptospirose. A pesquisa foi feita de maneira prospectiva e o grupo de casos foi constituído por 30 pacientes internados com hipótese diagnostica de Leptospirose na Clínica de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Investigou-se a possibilidade de haver consumo de plaquetas por coagulação intravascular disseminada, ou a possibilidade de destruição periférica de plaquetas por anticorpos e, se poderia haver inibição da produção de plaquetas em nível medular. Para a investigação desejada foram utilizados os seguintes exames: contagem de plaquetas, tempo de protrombina, tempo de recalcificação, tempo de trombina, tempo de tromboplastia parcial ativada, dosagem do fibrinogênio, dosagem do fator V, dosagem do fator VIII, dosagem dos produtos de degradação da fibrina, dosagem da antitrombina III, mielograma e pesquisa de anticorpos antiplaquetas. Foram ainda estudados o hemograma, a dosagem de uréia, a dosagem de creatinina, a dosagem das enzimas hepáticas (aspartatoaminotransferase, alaninaaminotransferase, desidrogenase láctica, gamaglutamiltranspeptidade e fosfatase alcalina), e a dosagem das bilirrubinas. A análise dos dados obtidos no presente trabalho permitiu-se chegar às seguintes constatações e conclusões: 1ª) A plaquetopenia é freqüentemente encontrada na forma grave de Leptospirose ocorrida em nosso meio (86,6%). 2ª) A plaquetopenia da Leptospirose não parece ser mediada por anticorpos antiplaquetas. 3ª) A avaliação dos dados obtidos não mostrou haver evidências clínicas e laboratoriais de ocorrência de coagulação intravascular disseminada. 4ª) Verificou-se existência da relação de dependência entre a plaquetogênese medular e a contagem de plaquetas no sangue periférico (P = 0,0261). A possibilidade de haver inibição da plaquetogênese medular por algum produto bacteriano (toxina) não pode ser totalmente afastada, porém acreditamos que o exame estático da medula óssea não pode dar-nos uma idéia precisa do mecanismo dinâmico da formação de plaquetas na presença de "consumo periférico". 5ª) Embora a plaquetopenia possa representar um fator contribuinte para a síndrome hemorrágica, não chegamos a uma diferença estatisticamente significativa entre a contagem das plaquetas nos pacientes plaquetopênicos que sangraram e nos que não apresentaram sangramento. 6ª) Na maioria dos casos (86,3%) a normalização da contagem das plaquetas ocorreu no período de sete dias após a internação. 7ª) Não houve diferença significativa entre as médias dos tempos de normalização da contagem de plaquetas nos pacientes que apresentaram e nos que não apresentaram sangramento. 8ª) Houve diferença significativa, entre as médias das contagens das plaquetas nos pacientes de níveis séricos menores e os níveis séricos mais elevados de uréia, sendo maior no primeiro grupo (t22 = 1,818 > t22:0.05 = 1,717). 9ª) A média do nível sérico dos pacientes que apresentaram sangramento foi maior do que a média do nível sérico de uréia dos pacientes que não sangraram, podendo-se afirmar que a uremia contribui para agravar o quadro hemorrágico na Leptospirose. A vasculite deve ser considerada como fator mais importante na patogênese dos distúrbios hemorrágicos da Leptospirose1,2,8,23, porém, acreditamos que a trombocitopenia, a uremia e os distúrbios da coagulação, isoladamente ou em conjunto, devem ser incluídos entre os fatores que agravam o quadro hemorrágico o qual representa hoje a principal causa de óbito na doença.

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