Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

RELAÇÃO DE HEMÓLISE COM RESULTADO DE DOPPLER TRANSCRANIANO EM PACIENTES PEDIÁTRICOS PORTADORES DE DOENÇA FALCIFORME

  • SR Calegare,
  • FMM Ramalho,
  • AVMM Apolaro,
  • JS Malachias,
  • EF Araujo-Junior,
  • JAB Romanini,
  • FP Pacchioni

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S633

Abstract

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Objetivos: Avaliar a relação entre grau de hemólise, resultado do doppler transcraniano (DTC) e risco para acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) em pacientes de 2 a 16 anos portadores de doença falciforme (DF) atendidos no ambulatório de Hematologia Pediátrica. Material e métodos: Coleta de dados em prontuários eletrônicos após assinatura de TCLE e TALE. O N foi de 116 e os dados eram referentes ao período de fev/2021 a fev/2022. Definiu-se risco de AVCi como o resultado de fluxo de artéria cerebral média ao DTC igual ou superior a 170 cm/s. Definiu-se grau de hemólise em 4 subvariáveis: Hemoglobina (Hb), Bilirrubina Indireta (BI), Reticulócitos (%) e Desidrogenase Láctica (DHL), obtidas a partir da média dos resultados de todos os exames ambulatoriais do período. Outras variáveis foram valor de plaquetas e de leucócitos (também a partir das médias), idade, raça e diagnóstico genético. Análise realizada em duas etapas: 1. Analisar como cada uma das variáveis se relacionava com a variável Risco de AVCi através de Testes Exatos de Fisher ou de Wilcoxon, onde valores de p < 0,05 indicam relação estatisticamente significativa entre variáveis. 2. Modelos de Regressão Logística para estudo da relação entre o risco de AVCi e as variáveis estatisticamente significativas na seção anterior, através de Razão de Chances com intervalo de confiança de 95%. Resultados: Foi demonstrada relação estatisticamente significativa entre Risco de AVCi e Hemoglobina (p = 0.01), DHL (p = 0.01), Reticulócitos (p = 0.013), Leucograma (p = 0.025) e Plaquetograma (p = 0.045). Ademais, obteve-se que quando a Hb aumenta em uma unidade, o risco de AVCi diminui em 42%; quando o DHL aumenta em 100 unidades, o risco aumenta em 37% e quando reticulócitos aumentam em uma unidade, o risco aumenta em 18%. Discussão: DF é uma hemoglobinopatia que através de hemólise, inflamação e vasoclusão, propicia a ocorrência de eventos isquêmicos cerebrovasculares especialmente na infância. HbSS é o tipo mais prevalente relacionado ao AVCi. Fatores de risco para AVCi são principalmente baixo valor de Hb e alto valor de leucócitos. Valores baixos de Hb estão relacionados a maior grau de hemólise, que propicia vasculopatia, estreitamento arterial e maior grau de lesão endotelial por aumento de fluxo arterial cerebral. Leucocitose se relaciona ao maior risco de AVCi por gerar inflamação, adesão ao endotélio e vasoclusão. Depois dela, maior ativação e adesão plaquetárias propiciadas pelo estado de hemólise também geram vasoclusão. Outros indicadores de hemólise envolvidos seriam DHL acima de 240 e reticulocitose, dado que reticulócitos falciformes estimulam ativação e agregação de leucócitos e plaquetas, provocam maior dano endotelial e possuem maior adesividade, contribuindo para ocorrência de AVCi. Medidas de controle e seguimento são realização de DTC periódico, transfusões crônicas para redução de HbS < 30%, uso de hidroxiuréia para aumento de Hb fetal, controle de processos envolvidos na vasoclusão e redução de leucócitos e plaquetas. Conclusão: Baixo valor de Hb, alto valor de DHL, reticulocitose, leucocitose e plaquetose possuem relação estatisticamente significativa com o risco de AVCi em pacientes pediátricos portadores de DF. A vigilância destes parâmetros se faz necessária no seguimento destes pacientes e seu controle é fator relevante na prevenção de AVCi.