Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)
MIELOMA MÚLTIPLO IGA LAMBDA DOUBLE HIT COM T(14;20); IGH/MAFB – RELATO DE CASO
Abstract
Objetivo: Relatar um caso de mieloma múltiplo com rearranjo raro IGH/MAFB – t(14;20) detectado por cariótipo e FISH. Material e métodos: Feminino, 53 anos, sem comorbidades prévias, com dor óssea em membros inferiores e quadril há 4 meses. Hb: 7,0 g/dL, Leucócitos: 6.560/mm3, Plaquetas: 175.000/mm3; creatinina 0,82 mg/dL, cálcio iônico: 6,5 mg/dL (4,6-5,30 mg/dL), desidrogenase lática: 242 U/L (135-214 U/L), eletroforese de proteínas: albumina 3,1 gdl e aumento da fração beta-2: 2,0 mg/dL (0,3-0,4 g/dL). β2microglobulina: 5,9 mg/L (0,8-2,4 mg/L), cadeia leve livre kappa: 5,3 mg/L (3,3-19,4 mg/L), cadeia leve livre Lambda: 102 mg/L (5,7-26,3), relação cadeia leve livre envolvida/não envolvida = 19. Imunofixação: IgA lambda. Componente urinário monoclonal de 24 horas: 430 mg. Imunofixação urinária: lambda. Exames de imagem (RX crânio, TC e RM) múltiplas lesões líticas em crânio, ilíaco e fraturas vertebrais de T9, L4, T12, fraturas patológicas e componentes de partes moles extra-ósseo no 4o arco costal à direita e lesão na asa sacral direita. Mielograma com 76,4% de plasmócitos com morfologia plasmablástica. Imunofenotipagem com 8,8% de plasmócitos (CD38+, CD138+, CD45+, CD56 -, CD117 -, lambda +). Biópsia de medula óssea: 80 e 90% de plasmócitos anaplásicos. Cariótipo complexo hiperdiploide com diversas alterações numéricas e estruturais. Painel de FISH com células CD138+ selecionadas: Amplificação do gene CKS1B (5 a 7 cópias cromossomo 1q), ganho dos genes CDKN2C (cromossomo 1p), FGFR3 (cromossomo 4p), CCND1 (cromossomo 11q), MAF (cromossomo 16q), região D17Z1 (cromossomo 17) e fusão gênica atípica IGH/MAFB t(14;20) em aproximadamente 95% dos núcleos analisados. Realizado diagnóstico de mieloma múltiplo (MM) double hit (mSMART 3.0), IgA lambda, R-ISS: III. Paciente iniciou tratamento com ciclofosfamida, talidomida e dexametasona. Discussão e conclusão: O MM é doença de curso heterogêneo e as anormalidades citogenéticas são importantes para explicar o comportamento biológico desta patologia. As anormalidades genéticas mais comuns no MM presentes em 40-50% dos casos são as translocações cromossômicas que envolvem do gene IGH e a variação do número de cópias de regiões cromossômicas. As translocações envolvendo o gene IGH são alterações primárias na patologia e podem ser compostas por ao menos 30 genes parceiros: CCND1 (11q13) 15%, FGFR3 (4p16) 15%, MAF (16q23) 5%, CCND3 (6p21) 2%, MAFB 2% (20q12), MAFA (8q24) 1%. MAFB, C-MAF e MAFA pertencem à família MAF, são fatores de transcrição de zipper leucine e têm funções de transativação e transrepressão gênica. Estudos de valor prognóstico da t(14;20) sugerem que esse achado é evento raro, é correlacionado com aumento da regulação da ciclina D2 e resistente a inibidores de proteossoma, configurando prognóstico desfavorável e curto tempo sobrevida.