Verba Hispanica (Dec 2023)

Descolonizar a terra, o corpo, a palavra

  • Cláudia Maria de Souza Amorim

DOI
https://doi.org/10.4312/vh.31.1.119-129
Journal volume & issue
Vol. 31, no. 1

Abstract

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O artigo analisa a narrativa Caderno de memórias coloniais, de Isabela Figueiredo, observando a corporeidade como eixo central da narrativa. A chave de leitura que dá relevo ao corpo está explícita na narração da jovem Isabela que passa em revista os anos vividos em Moçambique e de como o pai exercia o poder colonial, sendo a representação metonímica do domínio português sobre os nativos. Observando o seu próprio corpo, o corpo dos pais e o corpo aparentemente submisso dos negros e negras, a jovem contesta o colonialismo, desenvolvendo com o pai uma relação ambígua em que entram em cena o afeto por ele e a recusa ao que ele representava. Nesse domínio do corpo se associam o colonialismo e o patriarcalismo, como sistemas de opressão. Através da ironia, a personagem-narradora expõe o caráter brutal do colonialismo português em África ao mesmo tempo em que toma consciência de seu corpo e de sua singularidade que passa ainda pelo exercício da escrita.

Keywords