Revista Desenvolvimento Social (Aug 2021)
Sertão e a revelia do mundo
Abstract
No escopo da modernização conservadora brasileira, no norte de Minas Gerais, ocorreu uma intensa concentração fundiária a partir de usurpação das terras de famílias de comunidades negras, principalmente, mas também de comunidades brancas de agricultores familiares que foram forçados à migração com maior número de casos entre os anos 1965 e 1980, após a anexação da região norte mineira à área de atuação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. A autarquia de desenvolvimento nordestino financiava a transformação de fazendas em empresas rurais modernas e na região norte mineira, profissionais liberais das principais cidades, buscando se afazendar para usufruir dos recursos fiscais e financeiros disponibilizados para modernizar a economia regional, e fazendeiros tradicionais, em busca das melhores terras da região, expropriaram com violência desmedida às famílias negras que ocupavam, desde o século XVII, as terras férteis do vale do rio Verde Grande e as famílias brancas de agricultores em outros espaços regionais. Um número significativo de pessoas enlouqueceu com a destruição do mundus social em que cada uma vivia. Utilizando um relato etnográfico, minhas rememorações, estudo acadêmico, crônicas e relatos de jornais do período que informam o despejo de pessoas enlouquecidas pelos prefeitos dos municípios norte mineiros nas ruas de Montes Claros e daí, enviadas pelo poder público local, para o Hospital Colônia de Barbacena e, também, para o Hospital Galba Veloso em Belo Horizonte. A interpretação construída, em uma leitura antropológica da teoria econômica dos fatores de migração - expulsão e atração -, é feita a partir do conceito de anomia de Durkheim (1982) e utilizado em seus estudos por Merton (1970) e Oliven (2000) que permitem entender, em minha leitura, o enlouquecimento das pessoas em consequência à desestruturação do mundus social em que viviam.
Keywords