Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
MICRORNAS EM HEMOGLOBINOPATIAS: UMA REVISÃO
Abstract
Introdução: Os microRNAs (miRNAs) são pequenos RNAs não codificantes que atuam na expressão gênica interferindo na degradação do mRNA resultando em alterações nos processos pós-traducionais, sendo que vários miRNAs podem se ligar a um único gene. Hemoglobinopatias são alterações estruturais, funcionais ou produtivas das cadeias globínicas, representadas pela doença falciforme (DF), talassemias e outras hemoglobinopatias e, a reativação da HbF é uma medida mitigadora das complicações das doenças. Revisamos a importância dos miRNAs na expressão gênica e o seu potencial uso como alternativas terapêuticas em hemoglobinopatias. Materiais e métodos: Uma revisão de literatura foi realizada por meio da busca na base de dados PUBMED, seguindo os critérios de inclusão: trabalhos com acesso integral em português ou inglês, de 2010 a 2023, com os descritores: miRNA “AND” gene expression. “AND” hemoglobinopathies. Resultados: Dos 122 trabalhos encontrados, 95 foram excluídos após análise seguindo os critérios de inclusão. Os 28 artigos selecionados relataram o potencial de interferência dos miRNAs em hemoglobinopatias, sendo: 6 sobre doença falciforme; 20 sobre talassemias e 2 sobre ambas as condições clínicas. Os trabalhos discutiram a respeito de 33 diferentes miRNAs. Discussão: Estudos com miRNAs indicam seu potencial como biomarcadores de doenças do sistema sanguíneo e como um mecanismo regulador extra em células-tronco hematopoiéticas. O entendimento do papel do miRNA nas etapas de produção da HbF, leva a criação de mecanismos para o controle da expressão gênica da globina. A β+-talassemia e β0-talassemia/HbE são resultantes de alterações no gene HBB, com ou sem dependência de transfusão. Nesse contexto, o miR-17/92, miR-19b-3p, miR-326 e o miR-125b, contribuem na elevação ou na inibição da expressão das globinas e na expressão irregular de Hb, além de serem relacionadas com a gravidade da anemia e hemólise em indivíduos com a doença. Indivíduos com beta talassemia maior, apresentaram uma expressão desregulada do miR-144, relacionado ao estresse oxidativo, eritropoiese e apoptose. Em anemia falciforme (AF) o miR-2355-5p, miR-30a, o miR-210 podem atuar na produção de HbF por meio da regulação do HBG com efeitos supressores nos fatores de transcrição. MiRNAs circulantes funcionam como marcadores de bom prognóstico na úlcera de perna, com efeito protetor. A fim de se desenvolver uma terapia para AF, discute-se o uso de miRNAs, como o miR-29B, que tem como alvo os genes reguladores de HBG, para que possa ser utilizado para induzir HbF. Ainda a respeito da AF, estudos relacionam a baixa expressão de alguns miRNAs com a maior gravidade da doença. SNPs na região 3’ não traduzida (3’-UTR) da β-globina contribuem na interação de miRNA, o que pode afetar a expressão gênica culminando em alterações fenotípicas. Conclusão: Os miRNAs constituem uma vertente nas análises de expressão gênica devido ao seu potencial de interferência nos processos regulatórios e a possibilidade de serem usados como biomarcadores. Há uma lacuna em relação às suas implicações nas α-talassemias. Apesar dos miRNAs serem estáveis sobre condições adversas e representarem um meio não invasivo, devido a sua facilidade de obtenção por meio de soro e plasma, os métodos de investigação apresentam custo elevado. Portanto, também deve-se estudar meios para baratear o seu estudo para que possam contribuir no prognóstico de hemoglobinopatias e no planejamento terapêutico.