Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2024)

EP-209 - CARDIOTOXICIDADE POR ANFOTERICINA B EM UM PACIENTE COM PARACOCCIDIOIDOMICOSE

  • Julio Maganha Gouvêa,
  • Vivian Mei Matuoka,
  • Fernanda Regina Antonio,
  • Leonardo S.S.M. de Barros,
  • Nathalia Solimene Guerra,
  • Caio Framil Assumpção,
  • Vitória Maria Araújo Torres,
  • Joana Mezadri Cavasola,
  • Thalizy C. Pereira Santos,
  • Caio Laguna Reis do Carvalho

Journal volume & issue
Vol. 28
p. 104128

Abstract

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Introdução: A Paracoccidioidomicose é uma micose causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis, que pode levar a formas disseminadas graves e letais, com progressivo envolvimento multissistêmico. Uma opção de tratamento é a Anfotericina B (AB) em desoxicolato ou em formulação lipídica (lipossomal ou em complexo lipídico). Há descrições que a AB está associada à toxicidade cardíaca direta e miocardiopatia dilatada, com subsequente insuficiência cardíaca (IC), cujo os achados ecocardiográficos normalizam com a interrupção da terapia. Objetivo: Relatar um caso de Paracoccidioidomicose que apresentou cardiotoxicidade devido ao uso de AB e abordar a identificação do quadro. Método: Trata-se de um relato de caso. Resultados: Paciente do sexo masculino, 35 anos, encaminhado por infectologista com quadro de tosse produtiva, dispneia e disfagia de início há 1 mês, em uso de itraconazol devido ao diagnóstico confirmado de Paracoccidioidomicose através de biópsia de língua, porém sem melhora clínica. Inicialmente, aventou-se a hipótese de tuberculose pulmonar sobreposta ao quadro fúngico, optando-se por início de AB desoxicolato e solicitação de pesquisa de BAAR. Após 9 dias de tratamento com AB, paciente queixou-se de precordialgia, dispneia aos pequenos esforços e ortopneia, apresentando edema de membros inferiores 2+/4+ e crepitações pulmonares bibasais. Dentre os exames laboratoriais solicitados, paciente apresentou amostra de BAAR negativa, função renal dentro da normalidade e dosagem de BNP de 3986,3 pg/mL, quadro compatível com IC aguda perfil B, decorrente da cardiotoxicidade provocada pela introdução da AB. Em seguida, foi optado pela suspensão da AB e introdução de sulfametoxazol/trimetoprima associado à itraconazol e início de medidas para IC. Durante a internação, evoluiu com melhora do padrão respiratório e dos sintomas de congestão, com queda progressiva do BNP para 1368,5 pg/ml após 8 dias. Paciente recebeu alta e foi encaminhado para seguimento ambulatorial. Conclusão: O relato de caso evidencia a complexidade da Paracoccidioidomicose e os desafios associados ao seu tratamento, especialmente quando surge a necessidade de utilizar a AB. A toxicidade cardíaca direta associada a essa terapia pode manifestar-se clinicamente como IC aguda, exigindo rápida intervenção e suspensão do agente causador. A abordagem multidisciplinar e a monitorização cuidadosa dos pacientes são fundamentais para identificar precocemente os sinais de cardiotoxicidade, permitindo a implementação de medidas terapêuticas adequadas.