Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2024)
EP-321 - ENDOCARDITE FÚNGICA EM PACIENTES COM CANDIDEMIA: INCIDÊNCIA E FATORES DE RISCO
Abstract
Introdução: Candidemia é uma infecção relacionada aos cuidados de saúde potencialmente associada a complicações graves. Uma delas, a endocardite fúngica, associa-se a taxas de mortalidade de até 90%. Poucos estudos avaliaram a incidência dessa complicação nesse grupo de pacientes. Objetivo: Descrever a incidência e os fatores de risco associados ao desenvolvimento de endocardite fúngica em pacientes com candidemia em um hospital público terciário de ensino do sul do Brasil. Método: Estudo de coorte retrospectivo incluindo todos os pacientes ≥ 18 anos com o primeiro episódio de candidemia entre janeiro/2018 a março/2023 na instituição. Pacientes sem ecocardiograma na internação ou que o realizaram antes 3 dias do diagnóstico foram excluídos da análise. Para o cálculo do risco relativo (RR) utilizou-se a regressão de Poisson com variância robusta e as variáveis com P < 0,1 na análise univariável foram incluídas na análise multivariável. P < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. Resultados: Foram registrados 399 casos de candidemia durante o período estudado, sendo incluídos na análise 164 pacientes após revisão dos critérios de inclusão/exclusão. A mediana (IIQ) do índice de comorbidade de Charlson foi de 3 (2-5) pontos e a mortalidade intra-hospitalar foi de 43,9% (IC95%: 36,3-51,5%). Endocardite fúngica foi diagnosticada em 6,1% (IC 95%: 2,4-9,8%). Pacientes com endocardite fúngica tinham menor idade (P = 0,011), mais frequentemente cateter venoso central de longa permanência (P < 0,001), assim como maior prevalência de candida do complexo parapsilosis (P = 0,033). Candidemia persistente (P = 0,015) e nova positivação de hemoculturas após clareamento (P = 0,001) foram igualmente mais comuns nesse subgrupo. Em relação aos fatores de riscos, idade (RR 0,95; IC95%: 0,92-0,98), Candida do complexo parapsilosis (RR 4,24; IC95%: 1,17-15,3) e presença de válvula cardíaca protética (RR 8,73; IC 95%: 3,38-22,5) foram fatores de risco independentes na análise multivariável. Conclusão: A incidência de endocardite fúngica encontrada de pelo menos 6,1% nos pacientes com candidemia foi semelhante à observada na literatura. Considerando que a detecção dessa complicação impacta na dose do antifúngico utilizada, na duração do tratamento, assim como na eventual necessidade de cirurgia cardíaca, a sua busca sistemática nos pacientes com candidemia nos parece adequada, especialmente naqueles com os fatores de risco aqui identificados.