Teoria e Prática em Administração (Feb 2013)

A Transição de Líder para Contribuidor Individual: A Experiência Vivida pelo Ser Gestor Universitário

  • Fabiula Meneguete Vides da Silva

DOI
https://doi.org/10.21714/2238-104X2012v2i1-12082
Journal volume & issue
Vol. 2, no. 1

Abstract

Read online

Este estudo é resultado das minhas inquietações enquanto professora de uma universidade. Trabalhando em uma instituição de ensino superior, vivia em contato com relatos curiosos, de professores que, após passarem um período de no mínimo quatro anos como responsáveis pela gestão universitária, voltavam para a sala de aula. Esses relatos chegavam a mim sempre carregados de emoção, de momentos de alegrias e tristezas, de conquistas e derrotas, de muito aprendizado. Curiosa, recorri à literatura, a fim de compreender o processo de transição do líder (reitor ou pró-reitor) para contribuidor individual (professor) em universidades. Percebi que a literatura acerca dos processos de transição nas universidades é incipiente. Com o objetivo de compreender a experiência vivida por reitores e pró-reitores no processo de transição para professores, utilizei a abordagem fenomenológico-hermenêutica de van Manen (1990), a fim de retomar os principais temas desta experiência. Seis ex-gestores universitários emprestaram suas experiências, vivenciadas em universidades pertencentes à Associação Catarinense das Fundações Educacionais (ACAFE), através das entrevistas em três tempos preconizadas por Seidman (1998), realizadas entre maio de 2009 e março de 2010. Estas histórias revelam o significado de ser líder universitário e professor, e os principais temas que marcaram as experiências dos ex-gestores entrevistados, no processo de sua transição para a sala de aula. Ao voltarem para a sala de aula, os professores sentem-se aliviados por não mais viverem a fragmentação e a brevidade das tarefas típicas dos líderes. Como professores, conseguem gerenciar seu tempo e planejar suas atividades docentes, algo que não lhes era possível enquanto reitores e pró-reitores. Ao mesmo tempo em que os ex-gestores sentiram facilidades no retorno à sala de aula, imersos nessa nova realidade, suas vozes e expressões retrataram suas dificuldades de adaptação. A dificuldade no relacionamento pessoal entre professores e alunos e a falta de interesse dos alunos permearam a transição dos ex-gestores à sala de aula. O apoio oferecido pela família, nesse processo, foi essencial. Com satisfação, os professores relataram que voltaram a dedicar tempo para a pesquisa, o que não tinha sido possível no período em que estavam respondendo pela gestão universitária. Embora não fossem mais responsáveis pelo processo de gestão, muitos colegas ainda os viam como gestores, possuidores de poder. O processo de transição vivido na universidade possibilitou-lhes aprendizagem e mudanças nos seus comportamentos. Alguns desses professores entrevistados tornaram-se mais flexíveis: aprenderam o momento adequado para se manifestar. Os que não levavam em consideração a opinião alheia passaram a perceber a importância de escutar o outro. Aquele que antes tinha uma visão imediatista, atualmente, se percebe com uma visão voltada ao futuro, de longo prazo. O professor mais tímido teve que conversar mais com as pessoas. Os dados revelados por meio das experiências dos ex-gestores, embora estejam circunscritos a um universo restrito, revelam temas úteis para a compreensão da experiência vivida na transição de líderes universitários para a sala de aula, trazendo, assim, contribuições para pensarmos em políticas de recursos humanos, a fim de minimizarmos os aspectos negativos vividos pelos ex-gestores, como também para ampliarmos as pesquisas que levem em conta a temática da transição de professores nas universidades.