Revista Portuguesa de Cardiologia (Feb 2016)

Insuficiência renal aguda no contexto de cirurgia cardíaca pediátrica: fatores de risco e prognóstico. Proposta de um modelo preditivo

  • Bárbara Cardoso,
  • Sérgio Laranjo,
  • Inês Gomes,
  • Isabel Freitas,
  • Conceição Trigo,
  • Isabel Fragata,
  • José Fragata,
  • Fátima Pinto

Journal volume & issue
Vol. 35, no. 2
pp. 99 – 104

Abstract

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Resumo: Introdução e objetivos: Caracterizar, no nosso centro, a epidemiologia, fatores de risco e impacto prognóstico da insuficiência renal aguda no pós‐operatório cardíaco. Desenvolver um modelo de regressão logística para estimativa do risco de insuficiência renal aguda na população em estudo. Métodos: Estudo retrospetivo e monocêntrico em que foram incluídos doentes pediátricos consecutivos com cardiopatia congénita, submetidos a cirurgia cardíaca entre janeiro de 2010 e dezembro de 2012. Foram excluídos aqueles com doença renal prévia, história de diálise ou transplantação renal. Resultados: Foram incluídos 325 doentes, idade mediana = 3 anos (um dia; 18 anos). Quarenta (12,3%) doentes desenvolveram insuficiência renal aguda no primeiro dia após a cirurgia. Nove (69%) dos 13 doentes falecidos no pós‐operatório integravam o grupo com insuficiência renal. A ocorrência de insuficiência renal aguda condicionou um aumento do tempo de internamento na unidade de cuidados intensivos, da duração da ventilação mecânica invasiva e da mortalidade intra‐hospitalar (p < 0,01). Foi construído um modelo de regressão logística (variável dependente: insuficiência renal aguda pós‐operatória, variáveis preditoras: idade e valores séricos de creatinina, ureia e lactatos registados no primeiro dia de pós‐operatório). O modelo previu de forma significativa a ocorrência de insuficiência renal aguda pós‐operatória nesta população, com uma sensibilidade e especificidade máximas combinadas de 82,1 e 75,4%. Conclusões: No pós‐operatório cardíaco a insuficiência renal é comum e determina um mau prognóstico. A idade mais jovem e a elevação precoce da creatinina, ureia e lactatos séricos foram preditores robustos da ocorrência de insuficiência renal nesta população, permitindo a construção de um modelo analítico objetivo que poderá ser útil na estratificação de risco nestes doentes. Abstract: Objectives: To characterize the epidemiology and risk factors for acute kidney injury (AKI) after pediatric cardiac surgery in our center, to determine its association with poor short‐term outcomes, and to develop a logistic regression model that will predict the risk of AKI for the study population. Methods: This single‐center, retrospective study included consecutive pediatric patients with congenital heart disease who underwent cardiac surgery between January 2010 and December 2012. Exclusion criteria were a history of renal disease, dialysis or renal transplantation. Results: Of the 325 patients included, median age three years (1 day‐18 years), AKI occurred in 40 (12.3%) on the first postoperative day. Overall mortality was 13 (4%), nine of whom were in the AKI group. AKI was significantly associated with length of intensive care unit stay, length of mechanical ventilation and in‐hospital death (p<0.01). Patients’ age and postoperative serum creatinine, blood urea nitrogen and lactate levels were included in the logistic regression model as predictor variables. The model accurately predicted AKI in this population, with a maximum combined sensitivity of 82.1% and specificity of 75.4%. Conclusions: AKI is common and is associated with poor short‐term outcomes in this setting. Younger age and higher postoperative serum creatinine, blood urea nitrogen and lactate levels were powerful predictors of renal injury in this population. The proposed model could be a useful tool for risk stratification of these patients. Palavras‐chave: Insuficiência renal aguda, Cirurgia cardíaca, Cardiopatias congénitas, Keywords: Acute kidney injury, Cardiac surgery, Congenital heart disease