Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
ANÁLISE DO PERFIL IMUNOLÓGICO EM PACIENTES COM TROMBOCITOPENIA LIGADA AO X: FREQUÊNCIA DE CÉLULAS TREGS E B DE MEMÓRIA
Abstract
Introdução: A síndrome de Wiskott-Aldrich (WAS), assim como uma de suas variantes clínicas, a trombocitopenia ligada ao X (XLT), é uma imunodeficiência primária rara, que decorre de mutações no gene da proteína da síndrome de Wiskott-Aldrich (WASP ). A ausência ou diminuição da expressão da WASp leva a modificações na função das células hematopoiéticas prejudicando a resposta imune e resultando em manifestações como infecções de repetição, autoimunidade e eczemas. Estudos que observam como se dá o comportamento imunológico desses pacientes, mesmo que em casos isolados, pode contribuir para um maior entendimento da doença. Esse estudo teve como objetivo analisar o perfil imunológico, incluindo a frequência de células Tregs (CD4+CD25+FoxP3+) e células B de memória (BM) ativadas (CD19+CD27+IgD−IgG+) em dois pacientes com XLT, a forma clínica mais branda da WAS. Método: A variação do número de plaquetas e a ocorrência de infecções foi avaliada longitudinalmente nos pacientes. Além disso, para determinar a ativação das células Tregs, e BM ativadas, as células mononucleares do sangue periférico (PMBC) foram coletadas, criopreservadas e semeadas em placas de 96 poços, com meio RPMI-1640 por 18h sob estímulo com lipopolissacarídeo (LPS) (200ng/mL) e IL1β (10ng/mL). O trânsito intracelular foi interrompido pela administração de brefeldina-A (10μg/mL) e ionomicina (1μg/mL), e as células foram cultivadas pelas 6h subsequentes. Após 24h, foi utilizado um citômetro CytoFlex para determinar em células T auxiliares (CD4+) a frequência das citocinas e fatores de transcrição: IL10, IL17A, IL21, Bcl6 e FoxP3. As células B (CD19+) foram marcadas para identificar a frequência das células Bregs (CD24+CD38+) e BM (CD27+IgD−IgG+ e CD27+IgM+). Resultados: Nesse estudo foram avaliados dois pacientes com XLT em acompanhamento longitudinal por pelo menos 10 anos, ambos portadores de mutações missense no éxon 2 do WASP . O paciente 1 (P1), com 17 anos, apresenta uma mutação p.Thr45Met WASP , escore clínico 2 e mediana da contagem de plaquetas dos últimos dezesseis anos de foi 30x103plaq/μL (11-62x103plaq/μL). Ele relata no período diversas infecções de repetição, incluindo otites, infecções de garganta e pneumonia. O paciente 2 (P2), com 12 anos, possui mutação p.Pro58Leu WASP e escore clínico 1. A contagem mediana de plaquetas dos últimos dez anos foi de 23x103plaq/μL (12-35x103plaq/μL). Diferentemente do P1, o P2 não relatou a presença de infecções recorrentes. Ao comparar com PBMC de crianças saudáveis (controles), foi possível observar que os pacientes apresentam uma frequência de células Tregs 3,3 vezes menor do que os controles. Além disso, embora não tenha sido observado comportamento diferente na frequência das células BM naïve (CD19+CD27+IgM+), os pacientes com XLT apresentaram uma diminuição de 2,5 vezes na frequência das células BM ativadas (CD19+CD27+IgD−IgG+). Embora não seja possível demonstrar diferença estatística devido o N restrito de casos, nossa análise descritiva demonstra que o paciente que possui fenótipo clínico mais severo (P1, escore 2) apresentou uma frequência 4,25 vezes menor de células BM do que o paciente que possui escore 1 (sendo 6,6 vezes menor do que a mediana dos indivíduos saudáveis). Conclusão: Nossos dados sugerem que mesmo formas clínicas menos graves da WAS, como a XLT, possuem a diminuição na frequência de células Tregs e BM, o que está associado com a baixa capacidade do sistema imune e o maior comprometimento clínicos desses pacientes.