Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)
LEISHMANIOSE TEGUMENTAR DISSEMINADA E VISCERALIZAÇÃO EM INDIVÍDUO IMUNOSSUPRIMIDO GRAVE: A IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO AMBIENTAL PARA O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Abstract
Introdução: A leishmaniose tegumentar é uma doença infecciosa, não contagiosa, que provoca úlceras na pele e mucosas. A doença é causada por protozoários do gênero leishmania. No Brasil, há sete espécies de leishmanias envolvidas na ocorrência de casos desse agravo. A doença é transmitida ao ser humano pela picada das fêmeas de flebotomíneos infectadas. Caso clínico: FSC, masculino, cisgênero, 41 anos, fazendeiro, natural do otmails de moju-pa e morador de Tailândia-PA, é encaminhado do serviço de atendimento especializado (SAE) de seu município para investigar febre de origem indeterminada. Paciente apresentava história de tratar HIV desde 2021 com tenofovir + lamivudina + dolutegravir e apresentava, na consulta, carga viral não detectável, porém contagem de células TCD4 de 61 cels/mm³, além de hemograma demonstrando bicitopenia (anemia + leucopenia). Ademais, queixava de febre há cerca de 01 ano, acompanhada do aparecimento de lesões maculares, algumas papulares, acastanhadas ou arroxeadas, de limites definidos com algia a digitopressão, disseminadas por dorso, toráx e membros. Também relatava ocasional dispnéia e epistaxe. No exame físico, apresentava esplenomegalia a 2cm do rebordo costal. Durante consulta ambulatorial foi indicada biópsia das lesões cutâneas, com resultado demonstrando dermatite crônica intersticial xanto-macrofágica superficial e profunda, além de presença de numerosas estruturas intracelulares com morfologia compatível com formas amastigotas de Leishmania sp. Paciente foi submetido a internação hospitalar, onde realizou teste rápido de leishmaniose visceral (RK39) que resultou negativo, porém mielograma demonstrou presença de otmailst, alguns em fagocitose de formas de leishmania, sendo iniciado tratamento com anfotericina B. Comentários: Vale ressaltar que o paciente não tinha realizado qualquer tratamento para o parasito previamente ao seu diagnóstico, portanto não podemos caracterizar o caso como leishmaniose dérmica pós-calazar. Em pacientes com imunossupressão, a leishmania pode mudar o seu tropismo específico. Paciente aguarda a realização de pcr em biópsia de pele para tipificação da leishmania.