Revista Brasileira de Geomorfologia (Dec 2013)

O PAPEL DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS DO QUATERNÁRIO SUPERIOR NA DINÂMICA EVOLUTIVA DE PALEOVALE DE SEGUNDA ORDEM (SUL DO BRASIL)

  • Julio Cesar Paisani,
  • Marcia Regina Calegari,
  • Marga Eliz Pontelli,
  • Luiz Carlos Ruiz Pessenda,
  • Antonio Carlos de Barros Côrrea,
  • Sani Daniela Lopes Paisani,
  • Edenilson Raitz

DOI
https://doi.org/10.20502/rbg.v14i1.413
Journal volume & issue
Vol. 14, no. 1

Abstract

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Este artigo traz resultados da aplicação simultânea das análises de isotópos do carbono do solo e de fitólitos na identificação de trocas de vegetação com inferências às mudanças climáticas do Quaternário tardio, associadas à dinâmica evolutiva de um dos paleovales das bacias de baixa ordem hierárquica da Superfície 2 do Planalto das Araucárias. A seção estratigráfica investigada se encontra entre os divisores de águas dos rios Iguaçú (PR) e Uruguai (SC), em situação de inversão de relevo. O registro estratigráfico foi caracterizado utilizando-se dos critérios conjugados da lito-, pedo- e aloestratigrafia, cuja cronologia foi estabelecida pelo 14C (AMS). Os dados obtidos neste trabalho foram insuficientes para detectar a mudança climática do último interestádio (EIM 3) para o Último Máximo Glacial (EIM 2) globalmente atestada na literatura. Registrou-se apenas a continuidade da presença de Campo Cerrado entre 41.000 (45.582 a 44.133 anos cal. AP) a 29.000 anos AP (34.249 a 33.243 anos cal. AP). O sistema geomorfológico manteve-se em equilíbrio dinâmico não alterando os processos erosivos de baixa energia nas encostas. Registra-se apenas mudança na dinâmica pedogenética de progressiva para regressiva em direção ao Último Máximo Glacial. Houve mudanças na dinâmica fluvial ao longo dos EIM 3 e 2 comandadas por eventos neotectônicos. As principais alterações no sistema geomorfológico ocorreram por conta da transição Pleistoceno/Holoceno (EIM 2/1) e durante o Holoceno. Na transição Pleistoceno/Holoceno a mudança na energia dos processos erosivos nas encostas, de baixa para alta foi abrupta, promovendo a colmatação do fundo de vale. A partir de então a área passa a apresentar morfologia de rampa de colúvios. Possivelmente entre Holocêno Inferior e Médio houve o estabelecimento de cobertura vegetal transicional de Campo Cerrado/FOM, indicando condições climáticas mais úmidas e quentes que o EIM 2 (Último Máximo Glacial). Nesse período a morfogênese nas encostas foi baixa. No Holoceno Médio e Superior registrou-se mudança no regime hídrico. No último milênio a ação antrópica (índios) foi responsável pela manutenção de Campo Limpo até a colonização no início do séc. XX, quando se instalou o Campo Cerrado atualmente encontrado na área. A dinâmica das encostas nesse período voltou a ser de processos erosivos de baixa energia, possivelmente comandados pelo escoamento superficial hortoniano.

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