Anuário do Instituto de Geociências (Jul 2007)

Função das Presas Caniniformes no Dicinodonte Dinodontosaurus Romer, 1943 (Synapsida, Anomodontia).

  • Leonardo Morato,
  • Cesar Leandro Schultz,
  • Cristina Vega-Dias

Journal volume & issue
Vol. 30, no. 1
p. 239

Abstract

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As limitações mecânicas impostas pelamusculatura são significativas sobre o grau deabertura da mandíbula e repercutem diretamentena forma de obtenção de alimento dos vertebrados,especialmente quando lidamos com animaiscom presas hipertrofiadas. Esse é o caso deDinodontosaurus, um dicinodonte de médio portedo Mesotriássico do Rio Grande do Sul, em queas presas caniniformes se estendiam ventralmentea partir da borda das maxilas, atingindo, apenasna porção exposta do dente, cerca de um terço docomprimento total do crânio, em alguns espécimes.Em seção transversal, as presas são praticamentecirculares, indicando que não há uma direçãopreferencial de atuação. A musculatura adutora damandíbula, neste gênero, tinha seu ponto de inserçãodeslocado anteriormente, para aumentar os braçosde alavanca das forças geradas pelos músculos.Este arranjo potencializava, por um lado, maioreficiência da força empregada na porção anteriorda mandíbula, mas atuava, porém, em detrimentodo ângulo de abertura da mesma. Observando asfibras mais posteriores da musculatura adutora, quecorrespondem especialmente à parte posterior doM. adductor mandibulae externus lateralis e ao M.adductor mandibulae posterior, é possível admitiruma abertura mandibular máxima formando umângulo de cerca de 45°, insuficiente para permitirsignificativo espaço livre entre as presas e a mandíbula,do qual ainda teria que ser descontada a extensão dasprojeções córneas que cobriam a maxila, pré-maxilae dentário. Marcas de desgaste dentário, emboranão muito nítidas, parecem ser vistas ao menos naface medial das presas, o que poderia ser creditadoapenas ao atrito sofrido com a ranfoteca. Mesmo nãohavendo condição de Dinodontosaurus empregar aspresas com a mandíbula aberta, alguns exemplaresexibem algum desgaste em suas extremidades,deixando-as arredondadas. Nos indivíduos adultos,a única forma da extremidade das presas serutilizada, independente de sua função, seria com amandíbula elevada e retraída, de modo que as presasultrapassassem ventralmente a borda inferior damandíbula. Mesmo assim, devido à posição ventraldas presas no crânio, o animal precisaria flexionarconsideravelmente os membros anteriores ou deitarsecompletamente no chão para que elas pudessemalcançar o solo (para serem utilizadas em escavaçõesdo substrato, por exemplo). Uma outra possibilidadeseria o emprego das presas para romper ou rasgarcascas de árvores, ou ainda para descamar algumtipo de infrutescência, mas isso poderia exigir umaelevação demasiada do crânio, com forte torçãodorsal do pescoço. Entretanto, o posicionamentoe a orientação do crânio em Dinodontosaurus,aliados à morfologia do côndilo occipital, comseus dois côndilos laterais incipientes, ao pescoçocurto e à configuração da musculatura cervical, nãoindicam qualquer especialização para movimentosvigorosos de flexão da cabeça ou pescoço. Emborasuas funções na alimentação sejam especulativas e,sob diversos aspectos, questionáveis, as presas, emDinodontosaurus, certamente possuíam um papelcomo ornamentação. É provável que elas fossemutilizadas como um sinal visual de alerta contrapredadores ou que determinassem dimorfismo sexuale hierarquias dentro do grupo. Em cenários extremos,talvez pudessem ser usadas para golpear os flancosde outros machos, em disputas por território ou poracasalamento, através de curtos golpes da cabeça.