Revista de Saúde Pública (Dec 2007)

Mulheres negras e não-negras e vulnerabilidade ao HIV/Aids no estado de São Paulo, Brasil Black and non-Black women and vulnerability to HIV/AIDS in São Paulo, Brazil

  • Fernanda Lopes,
  • Cassia Maria Buchalla,
  • José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres

DOI
https://doi.org/10.1590/S0034-89102007000900008
Journal volume & issue
Vol. 41
pp. 39 – 46

Abstract

Read online

OBJETIVO: Analisar características relacionadas à vulnerabilidade individual de mulheres com sorologia positiva para o HIV segundo cor da pele. MÉTODOS: Pesquisa multicêntrica realizada em 1999-2000, em serviços de saúde especializados em DST/Aids no Estado de São Paulo, envolvendo 1.068 mulheres maiores de 18 anos, vivendo com HIV. Informações sociodemográficas e características relacionadas à infecção e aos cuidados em saúde foram obtidas em entrevistas individuais com questionário padronizado. A variável raça/cor foi auto-referida, tendo sido agrupadas como negras as mulheres pretas e pardas. A descrição das variáveis segundo raça/cor foi feita por medidas de tendência central e proporções, e o estudo de associação pelo teste chi2 Pearson. RESULTADOS: As diferenças entre negras e não-negras foram estatisticamente significantivas em relação a: escolaridade; renda mensal, individual e familiar per capita; número de dependentes diretos; oportunidades de ser atendida por nutricionista, ginecologista ou outro profissional médico; de compreender o que o infectologista diz; de falar com o infectologista ou com o ginecologista sobre sua vida sexual; de ter conhecimento correto sobre os exames de CD4 e carga viral; a via sexual de exposição. CONCLUSÕES: O uso de raça/cor como categoria analítica indica caminhos para melhor compreender como as interações sociais, na intersecção gênero e condições socioeconômicas, produzem e reproduzem desvantagens na exposição das mulheres negras aos riscos à sua saúde, assim como impõem restrições quanto ao uso de recursos adequados para o seu cuidado.OBJECTIVE: To analyze the characteristics related to individual vulnerability among HIV seropositive women, according to skin color. METHODS: A multicenter study carried out between 1999 and 2000 in health services specialized in STI/Aids in the state of São Paulo, involving 1,068 women living with HIV who are aged 18 or above. Sociodemographic data and characteristics relating to infection and healthcare were obtained by means of individual interviews based on standardized questionnaire. The variable race/color was self-reported and women who referred to themselves as black or mixed-race were grouped together as black. The definition of variables by race/color was done using central tendency and proportions, and an association analysis using the chi2 Pearson test. RESULTS: The differences between black and non-black women were statistically significant with regards to: schooling; monthly, individual and family income per capita; number of direct dependents; opportunities to see a nutritionist, gynecologist or other medical professional; understanding what the infectologist said; speaking with the infectologist or gynecologist about her sex life; having correct knowledge about CD4 exams and viral load; the sexual means of exposure. CONCLUSIONS: The use of race/color as an analytical category provides opportunities to understand better how social interactions, in the context of gender and socioeconomic conditions, create and recreate disadvantages for black women and their exposure to health risks, and also impose limits on the way they use of resources for their healthcare.

Keywords