Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (May 2017)
Alarme noturno e enurese: uma revisão baseada na evidência
Abstract
Introdução: A enurese noturna (EN) é um problema comum em idade pediátrica, atingindo cerca de 15% das crianças entre os cinco e os seis anos de idade. Pela sua elevada prevalência, várias modalidades terapêuticas têm surgido no sentido de atenuar o seu impacto, muitas vezes estigmatizante para a criança e família. Entre as opções disponíveis para o seu tratamento sobressai o alarme noturno (AN), tratamento comportamental com efeito condicionado a nível do sono. Objetivo: Rever a evidência científica existente quanto à eficácia do alarme noturno como opção terapêutica no tratamento da enurese noturna. Metodologia: Foi efetuada uma pesquisa bibliográfica nas principais bases de dados internacionais, utilizando os termos MeSH: Nocturnal enuresis AND Clinical alarms. Foi igualmente consultado o Índex RMP usando os termos de pesquisa (DeCS) “Enurese noturna” e “Alarme”. Como critérios de inclusão foram selecionados: meta-análises, revisões sistemáticas, ensaios clínicos aleatorizados, estudos observacionais e orientações clínicas, tendo sido incluídos artigos em língua inglesa e portuguesa, de janeiro de 2005 a janeiro de 2015. Para atribuição do nível de evidência (NE) foi utilizada a escala Oxford Centre for Evidence-Based Medicine 2011. Resultados: Depois de analisados os 52 artigos resultantes da pesquisa, foram incluídos nove artigos: três revisões sistemáticas, três estudos originais e três normas de orientação clínica. Na maioria da literatura analisada foi identificado benefício acrescido do AN quando comparado com as restantes terapêuticas não farmacológicas. Nos estudos que estabeleceram comparação com a desmopressina, o alarme noturno mostrou resultados equiparáveis, excetuando-se menor risco de recaída com o AN e melhor res-posta na EN com capacidade vesical noturna diminuída. Como aspetos menos positivos enumeram-se os resultados mais tardios do AN, a necessidade de colaboração por parte dos pais e o risco de menor adesão ao tratamento. No que respeita às orientações clínicas elaboradas por entidades reconhecidas, as recomendações são concordantes com os resultados dos restantes estudos. Discussão/Conclusão: Considerando os resultados promissores do alarme noturno (Nível de evidência 1, Força de recomendação A), importa que o médico de família considere a sua potencial indicação nos casos de EN resistentes às medidas iniciais, evitando-se a necessidade de intervenção farmacológica e/ou referenciação hospitalar precoce.
Keywords