Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
SOLICITAÇÃO DE RESERVA DE HEMOCOMPONENTES EM CIRURGIAS CARDÍACAS: ANÁLISE DE DADOS DE TRÊS GRANDES HOSPITAIS PARTICULARES DE SÃO PAULO
Abstract
Objetivo: A cirurgia cardíaca é um dos principais procedimentos de grande porte, com alto potencial para perda sanguínea perioperatória e subsequente transfusão de sangue, com isso requer reserva de hemocomponentes. Este estudo analisa dados coletados de três grandes hospitais particulares de São Paulo, durante o período de junho/2023 a junho/2024, com o objetivo de avaliar a demanda e o uso efetivo de hemocomponentes em diferentes tipos de cirurgias cardíacas. Metodologia: Foram analisadas 789 cirurgias cardíacas realizadas no período de 12 meses. As cirurgias foram categorizadas em cinco tipos principais: redirecionamento de fluxo sanguíneo, troca valvar, plastia valvar, revascularização do miocárdio e correção de defeitos congênitos (CIV/CIA). Além disso, foi analisado o uso de cell saver, uma tecnologia que permite a recuperação e reutilização do sangue do próprio paciente durante a cirurgia. Resultados: Os procedimentos foram classificados em cinco categorias: 25,1% redirecionamento de fluxo sanguíneo, 25% troca valvar, 5,3% plastia valvar, 38,7% revascularização do miocárdio e 6,0% correção de defeitos septais (CIV/CIA). No total, foram reservados 2580 hemocomponentes para essas cirurgias, dos quais 622 (24,1%) foram efetivamente utilizados. Além disso, 382 cirurgias utilizaram a técnica de autotransfusão intraoperatória representando 48,4% do total. Destas, 44 (11,5%) foram redirecionamento de fluxo sanguíneo, 137 (35,9%) troca valvar, 23 (6,0%) plastia valvar, 156 (40,8%) revascularização do miocárdio e 22 (5,8%) correção de defeitos septais. Dos pacientes 688 (87,2%) tiveram alta após o procedimento, enquanto 101 (12,8%) foram a óbito. Em relação ao gênero, 305 pacientes eram do sexo feminino (38,7%) e 484 do sexo masculino (61,3%). Discussão: A análise dos dados revela que a reserva de hemocomponentes em cirurgias cardíacas é uma prática crucial, apesar da taxa de utilização ser relativamente baixa (24,1% dos hemocomponentes reservados). A maior parte das reservas de hemocomponentes é destinada a cirurgias de revascularização do miocárdio, que também registrou o maior número de procedimentos realizados com o uso de cell saver, demonstrando a importância de utilizarmos técnicas de conservação de sangue do próprio paciente. A utilização de cell saver em 48,4% das cirurgias indica uma tendência crescente na adoção de técnicas que promovam a economia de sangue e a segurança do paciente. O perfil epidemiológico dos pacientes mostra uma predominância do gênero masculino, e uma taxa de mortalidade de 12,8%. Conclusão: É importante que as instituições possuam um protocolo de reserva adequado a sua realidade e ter uma interação entre as diversas especialidades, incluindo o serviço de hemoterapia. A reserva de hemocomponentes para cirurgias cardíacas é essencial para a segurança do paciente, apesar da taxa de utilização ser relativamente baixa. O uso de tecnologias como o uso da recuperação intraoperatória autóloga é benéfico e deve ser incentivado para reduzir a dependência de transfusões de sangue, garantindo um bom gerenciamento do sangue do próprio paciente. A análise dos dados epidemiológicos reforça a necessidade de cuidados especializados e planejamento meticuloso em cirurgias cardíacas, visando a melhoria dos resultados clínicos e a segurança dos pacientes.