Revista Portuguesa de Cardiologia (Sep 2011)

Definição de valores de referência da velocidade da onda de pulso arterial numa população portuguesa: Uma sub-análise do projecto EDIVA

  • Telmo Pereira,
  • João Maldonado,
  • Jorge Polónia,
  • José Alberto Silva,
  • João Morais,
  • Mário Marques

Journal volume & issue
Vol. 30, no. 9
pp. 691 – 698

Abstract

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Resumo: Introdução: A velocidade da onda de pulso carotideo-femoral (VOP) tem constituído um importante marcador de risco cardiovascular, traduzindo o reflexo arterial subsequente a um conjunto de contextos clínicos em que o impacto cardiovascular é manifesto. Este trabalho visou estabelecer parâmetros de normalidade da VOP para a população portuguesa, com base numa definição estatística. Método: O presente trabalho corresponde a uma sub-análise do Projecto EDIVA, envolvendo 668 indivíduos saudáveis (412 do sexo masculino), com idade média 39,73 ± 15,6 anos, índice de massa corporal 25,56 ± 4,05 kgm2, pressão arterial sistólica e diastólica respectivamente 125,47 ± 11,18 e 75,75 ± 9,27 mmHg. Estes indivíduos foram submetidos a um follow-up médio de 23,3 ± 3,34 meses, com avaliação anual da VOP. A normalidade foi definida em termos da história pessoal e familiar, da avaliação clínica, do ECG de superfície e da realização de exames analíticos de rotina. Resultados: A VOP média na amostra foi de 8,8 ± 1,4 m/s, sendo de 8,7 ± 1,6 m/s e 8,9 ± 1,5 m/s, respectivamente no sexo feminino e masculino (p = ns). A normalidade foi definida a partir do percentil 95 para cada faixa etária, e por género. A avaliação sequencial permitiu ainda avaliar o contributo percentual de agravamento da VOP face ao envelhecimento (5%), definindo-se assim uma variação positiva da VOP (em avaliações sequenciais) inferior a 5% como normal. Conclusão: Os resultados obtidos permitem: por um lado, estabelecer critérios de referência para a VOP tendo em consideração o papel determinante do envelhecimento na deterioração fisiológica da função das grandes artérias; por outro lado, estabelecer uma medida de valorização da variação longitudinal da VOP, aspecto que se reveste de grande importância face à adopção desta metodologia em programas integrados de seguimento de doentes com risco cardiovascular manifesto. Abstract: Introduction: Aortic pulse wave velocity (PWV) has been associated with cardiovascular risk in different clinical subsets. This subanalysis of the EDIVA project aimed to establish criteria for normality of PWV based on a statistical definition that considers the fundamental physiological role of aging in arterial stiffness. Methods: A sample of 668 healthy subjects (412 male) enrolled in the EDIVA Project (a prospective, multicenter, observational study) were studied. Mean age was 40.00 ± 13.42 years, body mass index was 25.90 ± 4.21 kg/m2, and systolic and diastolic blood pressure were respectively 125.47 ± 11.18 and 75.75 ± 9.27 mmHg. PWV was determined annually using a Complior device, and mean follow-up was 23.3 ± 3.34 months. Personal and family history, physical examination, electrocardiogram and biochemical analysis were used to determine individual health. Results: In the overall population PWV was 8.8 ± 1.4 m/sec, 8.7 ± 1.6 m/sec in men and 8.9 ± 1.5 m/sec in women (p = NS). Normal PWV was defined as the 95th percentile adjusted for age and gender, above which PWV was considered abnormal. Serial evaluation of PWV also enabled the annual age-dependent increase in PWV to be estimated at 5%, values above this cut-off being defined as abnormal vascular deterioration. Conclusion: This study establishes criteria for normality based on a statistical definition that takes into account the fundamental physiological role of aging in arterial stiffness. Additionally, it provides a cut-off for the clinical interpretation of serial PWV measurements. Palavras-chave: Velocidade da onda de pulso, Distensibilidade arterial, Normalidade, Risco cardiovascular, Keywords: Pulse wave velocity, Arterial stiffness, Normality, Reference values