Antropolítica : Revista Contemporânea de Antropologia (Dec 2022)

Lazer noturno e resistências juvenis em tempos de (pós-)pandemia: o caso dos jovens do bar Antù em Lisboa

  • Guilherme Teixeira Costa,
  • Otávio Raposo,
  • João Carlos Martins,
  • Manuel Garcia-Ruiz,
  • Jordi Nofre

DOI
https://doi.org/10.22409/antropolitica2022.i3.a54935
Journal volume & issue
Vol. 54, no. 3

Abstract

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Em Lisboa, desde o primeiro verão pandêmico, observamos o surgimento de novos atores informais na noite turística do antigo bairro portuário do Cais do Sodré que desenvolviam práticas alternativas de lazer com algumas particularidades: são jovens de nível socioeconômico precário, apresentam traços culturais alternativos e concentram-se para socializar e consumir álcool no espaço público em frente ao bar Antù. Esses jovens são vistos pelas autoridades públicas e por seu braço repressivo policial como atores “indesejáveis” à “normalidade” da noite turística do Cais do Sodré. A sua “alteridade” (ligada a cor de pele, estética corporal e classe social) constitui-se como um elemento perturbador na noite turística da Pink Street. Essa área de diversão noturna tem uma natureza marcadamente hedonista e orientada quase exclusivamente para indivíduos brancos (lisboetas ou não) de classe média alta. Este artigo, resultante de um enfoque etnográfico, visa a analisar a dialética desigual entre a repressão policial (por vezes, violenta) e a resistência performativa dos atores “indesejáveis” da noite turística do Cais do Sodré. O artigo argumenta que os espaços em causa – o bar Antù e o espaço público situado ao redor do estabelecimento – não só emergem como palcos de uma forma de resistência performativa e recusa dos valores societais capitalistas, mas também como um local que proporciona alternativas de (de)construção comunitária e coesão social dentro de um contexto pós-pandêmico profundamente criminalizado, racializado e punitivo.

Keywords