Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
FARMACOGENÔMICA DA ANEMIA FALCIFORME: AVALIAÇÃO DE POLIMORFISMOS RELACIONADOS À TOXICIDADE NA TERAPIA COM MORFINA
Abstract
Introdução: A anemia falciforme é um desafio significativo para a saúde pública devido à sua crescente prevalência global. A crise vaso-oclusiva é a principal forma de apresentação clínica dessa doença, sendo responsável por cerca de 90% das hospitalizações. Essa complicação decorre da falta de oxigenação dos tecidos causada pelo formato anormal das hemácias.A morfina é a principal droga prescrita nesses casos para o alívio da dor. Logo, é crucial entender os farmacogenes relacionados para uma prescrição mais personalizada e segura. A farmacogenômica emerge como uma ferramenta para direcionar a prescrição de medicamentos com base nas variações genéticas individuais. A análise dessas variações e dos perfis de expressão gênica permite selecionar medicamentos mais eficazes com menos efeitos colaterais, cespecífico de cada paciente. A Base de Conhecimento de Farmacogenômica dos Estados Unidos (PharmGKB) é uma fonte importante de informações sobre o impacto das variantes genéticas na resposta aos medicamentos, incluindo a abordagem terapêutica da anemia falciforme. Objetivo: Comparar a frequência de dois polimorfismos associados à toxicidade entre a população com anemia falciforme do estudo REDS-III e a população sem anemia falciforme, utilizando os dados do TopMed. Métodos: Foi realizado o cálculo da frequência alélica e genotípica com base no sequenciamento de genoma completo do projeto TOPMED. O teste qui-quadrado foi utilizado para verificar a significância das diferenças encontradas, sendo considerado significativo quando o valor de p fosse menor que 0,01. Resultados: Na população falciforme, o polimorfismo rs1045642 (n = 2636) apresentou uma frequência de homozigotos referência de 9,59% (n = 253), heterozigotos de 41,99% (n = 1107) e homozigotos mutados de 48,40% (n = 1276). Na população do TopMed (n = 132345), a frequência foi de 18,04% (n = 23883) para homozigotos referência, 44,08% (n = 58346) para heterozigotos e 37,86% (n = 50116) para homozigotos mutados. O valor do teste χ2 é 181.122, e o valor de p < 0,01.Para o polimorfismo rs1799971, na população falciforme, a frequência de homozigotos referência foi de 80,69% (n = 2127), heterozigotos de 18,17% (n = 479) e homozigotos mutados de 1,13% (n = 30). Na população do TopMed (n = 132345), a frequência foi de 78,10% (n = 103373) para homozigotos referência, 19,82% (n = 26238) para heterozigotos e 2,08% (n = 2734) para homozigotos mutados. O valor do teste x²é 16.63, e o valor de p < 0,01.Discussão: A obtenção da farmacogenética antes da utilização dos opioides facilita ajustes de dose e reduz o risco de toxicidade, otimizando o tratamento. Os resultados indicaram diferenças estatisticamente significativas nas frequências genotípicas entre as populações estudadas para os polimorfismos rs1045642 e rs1799971. Isso sugere que esses polimorfismos podem estar associados à resposta aos opioides utilizados em pacientes com anemia falciforme. No caso de rs1045642, a frequência de homozigotos mutados foi maior na população falciforme, enquanto a frequência de homozigotos referência foi maior na população do TopMed. Para rs1799971, a população falciforme teve uma frequência maior de homozigotos referência, enquanto a população do TopMed apresentou uma maior frequência de heterozigotos e homozigotos mutados. Conclusão: A análise das frequências genotípicas dos polimorfismos revelou diferenças estatisticamente significativas que podem impactar a prescrição e a segurança dos pacientes.