EduSer (Dec 2022)
Crítica aos fundamentalismos identitários: Comentários ao “Eu Soberano” de Roudinesco
Abstract
Roudinesco, psicanalista francesa muito renomada, analisa identidades étnicas ou similares exacerbadas – daí a expressão provocativa “Eu Soberano” – que exigem uma autonomia já incapaz de conviver com outras autonomias. Postam-se como referência fundamentalista, no sentido de não admitirem contestação ou mesmo diálogo, impedindo a convivência em sociedade. A tese básica sugere que, para conviver em sociedade, é preciso não ser fundamentalista, ou seja, saber conviver com a diversidade, hoje um tema fundamental das democracias mais abertas. A França está no pano de fundo de uma experiência europeia iluminista que adotou a laicidade do Estado, as “Luzes” (Iluminismo) em termos científico-culturais, a democracia e a república. O livro ainda se alinha a algumas expectativas eurocêntricas supremacistas, como a de ser possível algum universalismo dos Direitos Humanos, enquanto hoje se defende que a validade só pode ser relativa, embora não relativista: dinâmicas históricas e evolucionárias valem sempre, mas de modo relativo, não por defeito, mas porque é seu modo próprio de valer. Enquanto é muito veemente e bem documentada a análise crítica da Autora das experiências fundamentalistas identitárias, notamos alguns resquícios colonialistas de uma civilização que gosta de ser pôr como modelo. Lutas identitárias fundamentalistas, ou mesmo terroristas, não são aceitáveis, mas não se pode esquecer que reagem ao colonialismo europeu e similar, que também precisa ser contestado.
Keywords