Revista Portuguesa de Pneumologia (Jan 2007)

Peso corporal e comorbilidade são indicadores da mortalidade em doentes com DPOC sob oxigenioterapia Body weight and comorbidity predict mortality in COPD patients treated with oxygen therapy

  • S Marti,
  • X Muñoz,
  • J Rios,
  • F Morell,
  • J Ferrer

Journal volume & issue
Vol. 13, no. 1
pp. 155 – 158

Abstract

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A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma patologia comum, afectando 4-9% da população adulta. Em comparação com outras doenças, a mortalidade relacionada com a DPOC continua a aumentar na população em geral. É uma doença progressiva que conduz, usualmente, a insuficiência respiratória e à morte. A oxigenioterapia de longa duração constitui o único tratamento eficaz no aumento da esperança de vida de indivíduos com DPOC e insuficiência respiratória crónica. No entanto, esta continua a ser pequena (aproximadamente 40% aos 5 anos). Apesar de terem sido efectuados numerosos estudos, permanece alguma controvérsia sobre os factores de risco relacionados com a mortalidade destes indivíduos. Entre eles encontram-se os parâmetros funcionais respiratórios (FEV1), gases arteriais (PaO2, PaCO2), hipertensão pulmonar, sexo, idade e índice de massa corporal (IMC). Contudo, nenhuma destas variáveis revelou ter um valor predictivo claro. Esta discrepância pode resultar, em parte, da metodologia utilizada. O objectivo do presente estudo foi investigar a associação entre as variáveis clínicas e a mortalidade por causas respiratórias e outras, em doentes com DPOC sob oxigenioterapia de longa duração. Foram avaliados retrospectivamente todos os doentes que iniciaram oxigenioterapia de longa duração entre 1992 e 1999 no Hospital Vall d’Hebram (Barcelona). A prescrição de oxigénio foi a seguinte: >15h/ /dia a um débito de 1-3L/min, fornecido por um concentrador. A indicação para oxigenioterapia de longa duração foi determinada por uma PaO2 60 mmHg sob oxigenioterapia. O cor pulmonale foi definido pela presença de dois ou mais dos seguintes itens: hipertrofia ventricular direita; engurgitamento das artérias pulmonares na radiografia do tórax; edema dos MI. A comorbilidade foi avaliada utilizando o índice de Charlson desenvolvido para determinar o seu impacto no prognóstico, atribuindo a cada doença um score de 1 a 6 proporcional ao risco de morte relacionado com a referida patologia. O score 1 é atribuído ao EAM, insuficiência cardíaca congestiva, doença vascular periférica, doença cerebrovascular, demência, conectivopatia, doença péptica, doença hepática ligeira e diabetes. O score 2 é conferido à diabetes com lesão orgânica múltipla, hemiplegia, doença renal e neoplasias, incluindo leucemia e linfomas. O score 3 é atribuído à doença hepática moderadamente grave, enquanto o score 6 às doenças neoplásicas metastizadas e à SIDA. A DPOC foi excluída desta lista. No presente estudo foram incluídos 128 doentes de um total de 202 indivíduos com DPOC sob oxigenioterapia domiciliária de longa duração. A maioria dos doentes era do sexo masculino (98%) com uma idade média de 68,9±9,7 anos. A distribuição de acordo com o índice de massa corporal (IMC) foi a seguinte: IMC 45mmHg em 81 casos - 63%). As patologias associadas mais frequentes foram a diabetes e a doença cardiovascular. O follow-up foi efectuado por pneumologistas em 73% dos indivíduos e clínicos gerais nos restantes, ao longo de 3,2 anos. Em 6 indivíduos, o follow-up terminou antes da referida data pela instituição de outra medida terapêutica: ventiloterapia não invasiva (3); transplante pulmonar (2) e cirurgia de redução de volume (1). O follow-up incluía o controlo da oxigenioterapia de forma a avaliar a compliance do doente e a necessidade de ajuste de aporte do oxigénio. As causas de morte foram obtidas através do registo de mortalidade catalão baseado na informação contida nas certidões de óbito e codificadas de acordo com a 10.ª Revisão da Classificação de Doenças internacional (ICD). Um total de 78 indivíduos (61%) faleceu no decurso do período de follow-up. A taxa de sobrevivência aos 3 anos foi de 55%. A mortalidade por patologia respiratória foi de 77%. A comorbilidade avaliada pelo índice de Charlson estava presente em 38% dos doentes. Um IMC <25 kg/m², idade = 70 anos e cor pulmonale estavam associadas a um aumento da mortalidade, bem como a presença de comorbilidade. O risco de morte era superior três a cinco vezes para um índice de Charlson = 2. No entanto, apenas o IMC e a comorbilidade se apresentaram como factores preditivos quando a análise se restringiu à mortalidade de causa respiratória.

Keywords