Acta Médica Portuguesa (Jun 2012)

Obesidade Pediátrica: A Realidade de Uma Consulta

  • Francisco Silva,
  • Elena Ferreira,
  • Rute Gonçalves,
  • Amélia Cavaco

DOI
https://doi.org/10.20344/amp.22
Journal volume & issue
Vol. 25, no. 2

Abstract

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Introdução: A prevalência da obesidade pediátrica tem crescido de forma incessante. A associação ao risco cardiovascular, à diabetes mellitus e aos distúrbios psicossociais é inquietante. É necessário identificá-la e intervir precocemente de forma a reduzir o impacto negativo na vida adulta. Material e Métodos: Avaliação da expressão de comorbilidades e da intervenção multidisciplinar no estado nutricional e na composição corporal das crianças e adolescentes obesos, aos seis meses de seguimento em consulta de Obesidade Pediátrica. Estudo retrospectivo por análise dos processos clínicos de crianças e adolescentes de idade inferior a 17 anos, acompanhados entre Janeiro de 2005 e Dezembro de 2008. Resultados: Foram seguidas 67 crianças e adolescentes, com predomínio do sexo feminino. O sobrepeso surgiu em média aos 4,6 anos de idade e a primeira observação em consulta de obesidade ocorreu em média aos 9,1 anos. Cerca de metade (47,8%) dos doentes foram referenciados por colegas dos cuidados primários de saúde. O factor preditivo de obesidade mais proeminente foi a obesidade dos progenitores (60%). A actividade física programada foi menor nos níveis de escolaridade mais baixa. O grau de obesidade mais prevalente foi a obesidade grave (70%), tendo-se verificado uma diferença entre sexos quanto à distribuição da gordura (feminino: não central; masculino: central). Os achados físicos mais frequentes foram: estrias, adipomastia e acantose nigricans. Na primeira avaliação, apesar de 6% dos doentes terem apresentado hipertensão arterial, 34,4% insulinorresistência e 56,7% dislipidémia, apenas 7,7% reuniam critérios de síndrome metabólico. Outras comorbilidades associadas: problemas psicossociais (23,9%), asma (16,4%), doença ortopédica (10,5%) e digestiva (3%). A avaliação aos 6 meses de intervenção, revelou uma redução do pIMC em 51% dos casos. O incremento na actividade física foi referido por 56,7% dos doentes. A impedância bioeléctrica evidenciou uma redução média da massa gorda em 0,8%. No final do período estudado verificou-se uma elevada taxa de abandono da consulta (28,4%). Conclusão: Na obesidade pediátrica é fundamental o envolvimento multidisciplinar de todos os profissionais de saúde, das escolas e sobretudo da família. A avaliação antropométrica deve incluir sempre o perímetro da cintura e o cálculo do IMC. A impedância bioelétrica pode ser utilizada no controlo individual da composição corporal. O tratamento mais eficaz continua a ser a modificação dos hábitos e estilo de vida, e o seu sucesso dependente da motivação do obeso e sua família.