Mana (Oct 2005)
As sociedades contra o Estado existem?: Reciprocidade e poder em Pierre Clastres
Abstract
Este artigo avalia criticamente a contribuição de Pierre Clastres para o entendimento do poder, enfatizando sua noção de "sociedade contra o Estado". Mostra que a crítica de Clastres a Lévi-Strauss não exclui uma proposta particular de atualização daquilo que o primeiro denomina "troca recíproca" e indica que sua reflexão depende de uma concepção da reciprocidade que a confunde simultaneamente com simetria, equivalência e igualdade. Mostra ainda que a noção de "sociedade contra o Estado" não deixa de se fundamentar, em última análise, na proposição de um modo específico de relação de troca entre os termos "sociedade" e "Estado". Esta troca, cuja existência é negada por Clastres, é implícita e inconscientemente afirmada por ele.This article critically evaluates P. Clastres's contribution to our understanding of power, with particular emphasis on his notion of "society against the State". It demonstrates that Clastres's critique of Lévi-Strauss does not exclude a particular understanding of what he calls 'reciprocal exchange' and also indicates the extent to which the author's reflections are based on an understanding of the notion of reciprocity which mistakes it simultaneously for symmetry, equivalence and equality. The article likewise shows that the notion of "society against the State" depends on a specific kind of exchange relationship between 'society' and 'the State'. The existence of this exchange - explicitly denied by Clastres - is at once implicitly and unconsciously presumed by him.
Keywords