Revista Portuguesa de Pedagogia (Jul 2010)

Consumo de álcool e seus efeitos no desempenho escolar

  • António Castro Fonseca

DOI
https://doi.org/10.14195/1647-8614_44-1_11
Journal volume & issue
no. 44-1

Abstract

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O consumo de álcool e o insucesso escolar são dois dos maiores problemas com que os jovens se vêem, desde há muito, confrontados em vários países e, de modo particular, em Portugal. Embora esses dois problemas apareçam frequentemente associados, pouco se sabe ainda, ao certo, sobre o sentido dessa relação. O objectivo deste estudo é analisar os efeitos de diversos padrões de consumo de álcool sobre o desempenho académico na adolescência, em Portugal. Utilizaram-se para esse efeito os dados de um estudo longitudinal em que uma amostra de alunos das escolas públicas do ensino básico de Coimbra foi seguida desde os primeiros anos do ensino básico até aos 17-18 anos de idade. As informações sobre o consumo de álcool foram recolhidas através da resposta a quatro perguntas inseridas num questionário de auto-avaliação de comportamentos anti-sociais. Por sua vez, as informações sobre o desempenho académico foram obtidas por meio de uma entrevista aos jovens aquando da sua avaliação aos 17-18 anos e através de dados recolhidos nas escolas que, no follow-up, eles frequentavam. Os resultados revelaram que o consumo de álcool já ocorria com alguma frequência nos primeiros anos do ensino básico, aumentando progressivamente, com a idade, até se tornar um fenómeno quase normativo no fim da adolescência, sobretudo entre os rapazes. No que se refere aos efeitos negativos do consumo de álcool, não se encontraram diferenças significativas no desempenho escolar entre os que nunca consumiram álcool e os que o experimentaram alguma vez. Além disso, quando se compararam os indivíduos que apresentavam padrões de consumo mais graves (v.g. consumo de início precoce, embriaguez ou consumo persistente) com o resto da amostra, obtiveram-se diferenças estatisticamente significativas a nível das repetências; mas essas diferenças desapareciam uma vez controlado o efeito de outros factores da infância, designadamente as dificuldades de aprendizagem reportadas pelos professores ou os problemas de atenção. No conjunto, estes resultados parecem apoiar a ideia de que o consumo de álcool, sobretudo o consumo ocasional e moderado, não afecta significativamente o desempenho escolar dos jovens. Seria interessante verificar se este padrão de resultados se mantém quando se estudarem formas mais graves de consumo de álcool, designadamente nos casos de dependência ou alcoolismo juvenil, ou quando avaliaram novamente os mesmos indivíduos no início da idade adulta.