Educação e Pesquisa (Dec 2008)

Educação e liberdade em Hannah Arendt Education and freedom in Hannah Arendt

  • Vanessa Sievers de Almeida

DOI
https://doi.org/10.1590/S1517-97022008000300004
Journal volume & issue
Vol. 34, no. 3
pp. 465 – 479

Abstract

Read online

O presente artigo investiga, numa perspectiva filosófica, a relação entre os conceitos de educação e liberdade nos escritos de Hannah Arendt. Sustenta-se que, embora a autora não aponte para isso, existe em seu pensamento uma relação essencial entre esses conceitos. A interface principal é a natalidade, o fato de seres novos nascerem para um mundo já constituído. Dessa condição existencial decorre, por um lado, a potencial liberdade do ser humano, a capacidade de iniciar algo inesperado e, por outro, a necessidade de acolher os novos num espaço comum que é mais velho do que eles. A tarefa da educação é contribuir para que os "recém-chegados" se apropriem desse mundo que lhes é legado, possibilitando assim que futuramente assumam a responsabilidade por ele. Isso, no entanto, implica na necessidade de arrumar esse lugar, que está "fora dos eixos". A ação educativa nesse sentido, porém, pode ser apenas indireta: sendo que todo ser humano nasce como alguém singular, diferente de qualquer outro, cada um é uma novidade para o mundo e, por isso, é, a princípio, capaz de transformá-lo, começando algo novo. A liberdade, portanto, depende da singularidade de cada pessoa. A educação - que não muda o mundo numa ação direta - pode propiciar às crianças e aos jovens a possibilidade de desenvolver sua singularidade, contribuindo assim para que futuramente possam de fato realizar o dom da liberdade, renovando o mundo que herdaram.The article investigates under a philosophical perspective the relationship between the concepts of education and freedom in Hannah Arendt's writings. It is argued that, although she did not point it out, there exists an essential relationship between these two concepts in her thinking. The main interface here is birth, the fact that new beings are born into a world that is already constituted. Out of this existential condition follows, on one side, the potential freedom of the human being, the capacity to initiate something unexpected and, on the other side, the need to receive the newcomers into a common space that is older than them. The task of education is to help the "newcomers" to embrace the world that is left to them, allowing them to take responsibility for it in the future. This, however, implies the need to tidy up this place, which is "out of its bearings". The educative action in this sense can, however, be only indirect: since every human being is born as someone singular, different from everybody else, each one of them is a novelty to the world and thus in principle capable of transforming it, of starting something new. Freedom, therefore, depends on each person's singularity. Education - which does not change the world in a direct action - can give children and youngsters the possibility of developing their singularity, thereby contributing to make them realize in the future the gift of freedom, renewing the world they inherited.

Keywords