Debates em Psiquiatria (Feb 2017)
Atendimento às vítimas de violência sexual, Parte III: gravidez pós-estupro – revisão integrativa
Abstract
O cuidado às vítimas de violência sexual exige conhecimento das evidências e treinamento. Exame e acompanhamento psiquiátrico da interrupção legal da gestação e atendimento a grupos familiares incestuosos revelam janelas de vulnerabilidades e oportunidades na prevenção das graves consequências dessas ofensas. O objetivo deste estudo foi reunir conhecimento crítico sobre gravidez indesejada pós-estupro, suas repercussões e abordagens, contribuindo para o desenvolvimento de protocolos e boas práticas. Tratase de revisão integrativa, coleta de dados em fontes secundárias (MEDLINE, EMBASE, PsycINFO), com base na experiência vivenciada pela primeira autora. Os seguintes descritores nas línguas portuguesa e inglesa foram utilizados: transtorno mental, violência sexual, estupro, gravidez e aborto. A amostra foi de 32 artigos científicos e dois da mídia leiga. Com o adoecimento mental e físico das vítimas de violência sexual, a economia mundial perde mais de 8 trilhões de dólaresano (hospitalizações psiquiátricas, dependência de álcool e drogas, suicídio, obesidade, enxaqueca, doenças cardiovasculares, problemas obstétricos), havendo maior peso estatístico para portadoras de déficit intelectual e adolescentes. Existem 37 unidades de saúde no Brasil que atendem gravidez pós-estupro – três possuem assistência psiquiátrica. Milhares dessas gravidezes não são reveladas, geram conflitos, riscos e desafios relativos aos filhos gerados. O aborto legal envolve dificuldades institucionais e emocionais dos profissionais e pacientes frente a decisões complexas e dolorosas antes, durante e após o procedimento. A prontidão cognitivo-afetiva para receber cuidados, quando tardia, compromete a vida de vítimas e seus filhos. Conclui-se que combater e prevenir a transmissão transgeracional da violência de gênero e gravidez pós-estupro deve ser prioridade de saúde pública.
Keywords