Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

LEUCEMIA AGUDA ASSOCIADA AO REARRANJO FGFR1 COM MUDANÇA DE LINHAGEM: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA

  • NM Santana,
  • RO Nalesso,
  • A Costa-Neto,
  • CLG Farias,
  • PP Neffá,
  • RC Bonardi,
  • EM Rego

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S313 – S314

Abstract

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Introdução: O rearranjo que acomete o braço curto do cromossomo 8 (8p11) resulta na fusão e amplificação do gene receptor 1 do fator de crescimento do fibroblasto (FGFR1). É uma entidade rara recentemente reclassificada pela World Health Organization (WHO) como Neoplasia Mieloide/Linfoide com Rearranjo FGFR1. Pode se manifestar com diversos fenótipos incluindo neoplasia mieloproliferativa com eosinofilia, leucemia mieloide aguda, leucemia linfoblástica aguda T ou B e/ou a leucemia aguda bifenotípica. As duas alterações citogenéticas mais observadas foram as t(8;22)(p11.2; q11.2;)(BCR) e t(8;13)(p11.2;q12) (ZMYM2). Pacientes com t(8;22) costumam apresentar o quadro de leucemia mieloide crônica (LMC), e de forma mais rara, o de leucemia linfoblástica aguda de células B (LLA-B). Objetivos: Relatar o caso de um paciente com diagnóstico inicial de leucemia linfoide aguda associada ao rearranjo FGFR1 com posterior mudança de linhagem para leucemia mieloide aguda. Métodos: Os dados foram obtidos através da revisão de prontuário. Caso clínico: CEDS, masculino, 50 anos, recebeu diagnóstico de leucemia linfoblástica B comum em 10 de fevereiro de 2022. Medula óssea no diagnóstico com 93% de blastos. BCR-ABL p210 e p190 indetectáveis. Cariótipo com resultado 46,XY, t(8;22)(p11.2;q11.2)[10]/46, idem, add (18)(q23)[4]/46,XY[6]. O FISH evidenciou cópia adicional do gene BCR em 79,5% das intérfases analisadas. Paciente foi tratado inicialmente com protocolo CALGB e Rituximab, seguido por Blinatumumab, Inotuzumab, Mini-Hyper-CVD e Dauno-FLAG, após sucessivas recaídas. Após a quinta linha de tratamento, foi submetido ao transplante alogênico de medula óssea. Apresentou nova recaída da doença após 5 meses, com mielograma evidenciando 63% de blastos de características mieloide, confirmando uma leucemia mieloide aguda. Na análise citogenética: 51XY, der(8;22)(q10;q10), +9, +9(del9)(q12)x2, der(11;17)(q10;q10), +12, +13, +19, +21, -22[15]/51,idem,inv(3)(p13q21)[4]/46,XY[1]. Atualmente paciente encontra-se em tratamento com Azacitidina e Venetoclax. Discussão: A translocação 8p11.2, que origina a Neoplasia mieloide/linfoide com rearranjo FGFR1, é rara e pouco descrita na literatura. Estudos sugerem uma prevalência em torno de 0,06%. A translocação t(8;22)(p11.2; q11.2;) leva a expressão gênica do BCR-FGFR1, associada de forma rara à leucemia linfoblástica aguda, como do paciente relatado. O mesmo evoluiu com leucemia mieloide aguda após cinco meses de remissão da LLA pós transplante alogênico. Manteve a translocação associado a um cariótipo complexo, como descrito em outros relatos de caso. A possibilidade de mudança de linhagem, como ocorrido, se baseia na teoria da permanência de uma célula progenitora mieloide/linfoide e que pode ser alvo do BCR-FGFR1. Conclusão: A leucemia linfoblástica aguda de células B causada pelo rearranjo FGFR1 é uma entidade rara e pouco relatada na literatura. A transformação de linhagem para leucemia mieloide aguda pode ser explicada pela teoria da permanência da célula progenitora mieloide que é alvo do BCR-FGFR1.