Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
PRESENÇA DE ANTICORPOS ANTIFOSFOLÍPIDES NA FASE DE CONVALESCENÇA POR COVID-19 E ACOMPANHAMENTO POR ATÉ 6 MESES.
Abstract
Introdução: A presença de anticorpos antifosfolípides (aPL) na COVID-19 foi relatada em pacientes com COVID-19 durante a fase aguda. A detecção de aPL em pacientes com COVID-19 grave levanta questões sobre o papel desses anticorpos nos distúrbios de coagulação observados durante a infecção e sua permanência após o contágio. Objetivo: Associar a presença de aPL na fase de convalescença em voluntários que tiveram COVID-19 com o nível de severidade da doença na fase aguda e avaliar a permanência desses anticorpos por até 6 meses nos grupos Moderados (M) e Graves (G). Materiais e métodos: Foram recrutados 226 voluntários (nov. 2020 a dez. 2021), não vacinados, com RT-PCR positivo por pelo menos 30 dias. A coorte foi dividida em 3 grupos: Leve (L, 60), M (65) e G (101), conforme a OMS2. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), responderam um questionário e tiveram amostras de sangue coletadas. Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética (nº 37094020.6.0000.5060) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A pesquisa de aPL incluiu as dosagens de anticoagulante Lúpico (LAC) (Werfen), anticorpos anticardiolipina (aCL) IgG/IgM e antiβ2 glicoproteína I (aβ2GPI) IgG/IgM (Orgentec). Foram considerados positivos para aPL qualquer participante com um dos critérios para Síndrome Antifosfolípide (SAAF) dosados acima do cut-off. Os voluntários dos grupos M e G que positivaram foram reconvocados após 6 meses. Os resultados foram analisados pelo teste Qui-quadrado, o teste exato de Fisher e o teste de Mcnemar. (p < 0,05). Resultados: A presença de aPL na primeira convocação mostrou uma associação significativa com a gravidade da COVID-19 entre os grupos (p < 0,05). Dos que positivaram, 3 (5%) eram do grupo L, 12 (18,46%) do grupo M e 23 (22,77%) do grupo G. Dos 35 participantes que positivaram (G/M), 24 compareceram após 6 meses e 9 (37,5%) permaneceram positivos para aPL. Os resultados indicam uma associação significativa (p < 0,05) entre o tempo e a probabilidade de testar positivo ou negativo para aPL, o que pode indicar que a presença continuada ou ausência dos anticorpos não são apenas um evento aleatório, ou seja, a presença de aPL não se comportou como transitório em nossa coorte. Discussão: Vollmer et al. realizaram ensaios de aPL entre 3 e 6 meses após um primeiro teste LAC positivo em indivíduos pós-COVID-19. Nesse estudo, o LAC foi frequente na fase aguda, porém, normalizou após 6 meses, ao contrário do nosso estudo. Já com relação aos demais aPLs, 23,8% tiveram pelo menos um aPL positivo. A maioria desses pacientes testaram positivo para aPL no início da infecção e permaneceram positivos por pelo menos 12 semanas, sugerindo que a trombopatia relacionada a aPL na COVID-19 é uma forma primária da SAAF. Apesar desse resultado, estudos contestaram a relevância clínica de aPL positivo na COVID-19, contudo, não descartaram a hipótese desses pacientes possuírem maiores probabilidades de desenvolver trombose em uma nova reinfecção ou patologia. Conclusão: A infecção por COVID-19 está associada a distúrbios de coagulação e, neste estudo, foi observada a presença significante de aPL no grupo grave. Apesar da importância de aPL na fase aguda da doença, poucos estudos se concentram no acompanhamento desses pacientes, destacando a importância de trabalhos nessa área.