Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

LINFOMA DE BURKITT EM TRANSPLANTE CARDÍACO DE LONGO PRAZO: RELATO DE CASO

  • LFM Olivatto,
  • ACR Marques,
  • VOC Rocha,
  • MLRO Almeida,
  • VL Costa,
  • RCR Queiroz,
  • DD Souza,
  • OCCG Baiocchi

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S270 – S271

Abstract

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Introdução: A doença linfoproliferativa pós-transplante (PTLD) é um grupo de linfomas de células B mais frequente no primeiro ano após transplante. Entre indivíduos com transplante cardíaco, há uma incidência de 2 a 8% de desenvolvimento de PTLD. O linfoma de Burkitt é um linfoma de células B com alta taxa proliferativa, podendo ser o subtipo de apresentação desta doença. Objetivos: Relatar um caso de linfoma de Burkitt em paciente com histórico de transplante cardíaco de longa data, destacando importância de monitoramento contínuo de pacientes imunossuprimidos e desafios terapêuticos deste perfil de PTLD. Relato de caso: Paciente masculino, 55 anos, com histórico de transplante cardíaco em 1995 indicado por miocardiopatia chagásica. Utilizou múltiplos esquemas imunossupressores por cerca de 30 anos, atualmente em uso de ciclosporina 100 mg/dia. Em 2019, evoluiu com rejeição crônica do enxerto, mantendo-se necessária a imunossupressão. Em abril de 2024, ele foi admitido em pronto-atendimento do Hospital São Paulo com quadro de dor abdominal difusa de início há 15 dias, constipação, hiporexia e perda de peso, além de anúria há 12 horas. Realizada tomografia de abdome diagnóstica em 21/04/2024 com volumosa massa retroperitoneal à direita, infiltrativa e heterogênea, medindo 18 × 20 × 27 cm, envolvendo completamente rim direito, cólon transverso e cólon descendente. Hemograma inicial com hemoglobina 6,6 g/dL, leucócitos totais 4860/μL (1014/μL neutrófilos e 349/μL linfócitos) e plaquetas 88000/μL, associado a DHL 7824 U/L e ácido úrico 12,3 mg/dL. Dada a hipótese de linfoma de alto grau com envolvimento medular, realizado mielograma e imunfenotipagem de medula óssea, evidenciando células com alta relação núcleo-citoplasma, núcleo com cromatina frouxa e citoplasma vacuolizado; imunofenótipo demonstrou presença de 1% de linfócitos B maduros, clonais, que expressam os antígenos CD19, CD20, CD10, CD38, CD22 e cadeia leve lambda, favorecendo a hipótese de linfoma de Burkitt. Paciente evoluiu com choque hemodinâmico e cardiogênico, injúria renal aguda com necessidade dialítica e lise tumoral espontânea. Visto alta carga tumoral e fragilidade de paciente, optado por citorredução com dexametasona 40 mg/dia e ciclofosfamida 100 mg 12/12h, por 5 dias. Após 12 dias, observada tolerância adequada a toxicidades, iniciou-se esquema quimioterápico “R-hyper-CVAD”. No entanto, o paciente faleceu em 20/05/2024, devido à refratariedade ao tratamento de síndrome de lise tumoral, choque cardiogênico e sepse por Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase, apesar de tratamento com Ceftazidima/avibactam. Discussão: A maioria dos casos de PTLD ocorre no primeiro ano após transplante, com predominante relação ao transplante de órgãos sólidos. Há também correlação com o tempo de imunossupressão do indivíduo e status sorológico para EBV. O monitoramento é mais frequente no início do transplante, sendo prática comum o prolongamento do intervalo entre consultas médicas conforme o avanço do tempo pós-transplante. Todavia, este caso ilustra a importância do monitoramento contínuo em pacientes transplantados de longa data, pois a detecção precoce é crucial em doenças linfoproliferativas de rápida progressão. Conclusão: Este caso sublinha a importância da vigilância contínua em pacientes pós-transplante de longa data e a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para o manejo de complicações hematológicas severas.