Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
IMPACTO DE MODELO DE EDUCAÇÃO MÉDICA EM REDUÇÃO TRANSFUSIONAL
Abstract
A transfusão de hemocomponentes, enquanto vital para salvar vidas, apresenta riscos e custos que precisam ser cuidadosamente considerados. Embora existam diversos estudos que comprovam a segurança de estratégias transfusionais mais restritivas, a prática ainda varia significativamente entre médicos da mesma especialidade e instituição. Nesse cenário, a educação médica é essencial para assegurar que os profissionais de saúde estejam bem informados sobre quando e como realizar transfusões, os tipos de hemocomponentes a serem utilizados, e como evitar complicações. Além disso, é importante que eles compreendam as questões éticas e legais associadas ao uso de sangue, garantindo transfusões seguras e eficazes, reduzindo o risco de problemas legais e custos hospitalares. A educação médica enfrenta desafios, especialmente devido às longas jornadas de trabalho que limitam o tempo disponível para estudo convencional. Em contrapartida, o uso de smartphones é comum entre os médicos, com o WhatsApp® sendo uma ferramenta popular. Com isso em mente, foi implementada uma intervenção na unidade hospitalar utilizando guidelines transfusionais no formato Pocket, de fácil disseminação e acesso via WhatsApp®, utilizando triggers transfusionais. A metodologia envolveu a criação de um guideline transfusional baseado no Manual de Uso de Hemocomponentes da instituição, resumido em formato visual de página única, com um arquivo específico para cada hemocomponente, facilitando o acesso dos colaboradores pelo WhatsApp®. Como ferramenta de mensuração, a equipe de laboratório sinalizava ao responsável técnico quando surgia uma requisição de transfusão possivelmente fora do protocolo. Esse responsável então contatava o prescritor e registrava todas as intervenções feitas, anotando se houve redução na necessidade transfusional. Caso não fosse possível contatar o médico, a ocorrência era registrada, mas não contabilizada como intervenção. Após alguns dias, o prontuário do paciente era revisado para verificar se a transfusão havia sido realizada até 72 horas depois. Os resultados mostraram que, antes da intervenção, em abril de 2021, foram identificadas 46 requisições possivelmente fora do protocolo, com 43 intervenções resultando na solicitação de 58 bolsas, levando a uma redução de 60,5% nas transfusões (26 bolsas em 23 pacientes). Após 72 horas, 73,1% das bolsas não foram transfundidas. Em maio de 2021, durante o período educacional, houve uma redução para 32 intervenções solicitando 56 bolsas, com uma redução de 44,6% nas transfusões (25 bolsas em 20 pacientes), e 68% dessas bolsas permanecendo não transfundidas após 72 horas. Em junho de 2021, após o período educacional, houve 22 intervenções solicitando 45 bolsas, com uma redução de 22,2% nas transfusões (10 bolsas), e 4 dessas bolsas permanecendo não transfundidas após 72 horas. Nos meses seguintes, a adesão ao protocolo melhorou significativamente, com uma média mensal de apenas 4 intervenções em 2022. O uso do WhatsApp® mostrou ser um meio eficaz e conveniente para a educação médica, permitindo fácil acesso a ferramentas de consulta rápidas. A implementação dessa estratégia resultou em excelente adesão ao protocolo transfusional, promovendo uma estratégia mais restritiva, sem prejuízo aos pacientes, e contribuindo para a redução de custos no serviço público.